
As ruas com maior concentração de imigrantes árabes no centro de Porto Alegre foram, em primeiro lugar, a Voluntários da Pátria, depois Riachuelo, Duque de Caxias e Andradas. Fora do Centro, a Benjamin Constant, nos trechos localizados nos bairros Floresta e São João.
Na Cidade Baixa, as ruas Demétrio Ribeiro, Fernando Machado e a antiga Rua Avahy tinham forte presença sírio-libanesa. Bem no Centro, as ruas Marechal Floriano, Dr. Flores, Alberto Bins, General Vitorino e Praça Parobé, esta última ao lado do Mercado Público, onde ficavam cerca de 10 imigrantes sírios, com quiosques de venda de frutas e hortaliças, e também alguns chauffeurs, com suas caminhonetes de fretes. Uma geração nascida no último decênio do século 19 e que emigrou para Porto Alegre nas primeiras décadas do século 20, o que se repetiria no bairro São João na segunda década do século passado, atraindo especialmente os libaneses.
A Capital vivia um acelerado processo de expansão, marcado, entre outras iniciativas, pela abertura e urbanização de áreas ao norte da cidade. Para além das regiões vizinhas ao Centro, como Floresta e Navegantes, o bairro São João tornara-se alvo do poder público, que incentivava os loteamentos e a abertura de novas ruas, a construção de residências e a implantação, ali, de comércio e de pequenas indústrias. Para lá afluíram muitos patrícios, desejosos de fugir do insalubre centro da cidade, em busca de uma melhor qualidade de vida.
Uma dessas pessoas foi o imigrante Antônio Mansur Chamun, pai de Cirne Chamun. O descendente de libaneses, hoje com 82 anos e ainda vivendo no bairro, em depoimento no livro comemorativo aos 80 anos da Sociedade Libanesa, em 2006, lembra dos nomes dos seus patrícios que vieram do Centro e de outros locais da cidade para o bairro São João durante a década de 1930.
Eram eles, entre outros, Adaime Adam, Allem, André, Assaf, Bittar, Buneder, Botomé, Buchabiqui, Buaia, Burgel, Cafruni, Chamun, Chemale, Chika, Creydi, Feres, Helou, Iunes, Kalil, Maluf, Merode, Mousalle, Saliba, Sarquis, Satt, Satte, Seadi, Selaimen, Sfair, Simão, Tauil e Temes. Muitos libaneses natos, assim como Charif Bjeije (93 anos), que chegou a nossa cidade no verão de 1954, depois de mascatear tecidos Brasil afora.

O jovem Charif carregava, simultaneamente, quatro malas. Uma em cada mão e duas atadas num cinto apoiado no ombro. Os calos eram removidos com uma faca afiada. Depois, estabeleceu-se com a loja 3 Irmãos na Avenida Benjamin Constant, próximo ao Cine Orpheu, junto com Ari e Kalil, que também chegaram do Líbano. Mais tarde, abriu a Casa Fátima, no IAPI.
Nos anos 1960, casou-se com dona Eloá (Lauahez), que conheceu na Sociedade Libanesa, com quem teve quatro filhos: Fátima, Kalil (in memoriam), Leila e Muna. Nos últimos 30 anos, a família é responsável pela boa cozinha árabe do Restaurante Lubnnan (Avenida Cristóvão Colombo, 727). Numa época, seu Charif chegou a pensar em voltar para o Líbano (o qual visita seguidamente), mas desistiu. “Eu adoro aqui”, afirma, ainda com algum sotaque.

Fonte: trabalho acadêmico Dos Cedros aos Pampas: Imigração sírio-libanesa no RGS, identidade e assimilação, do professor Júlio Bittencourt Francisco (Fabico, UFRGS)