O Arquivo Público do Estado (Apers) participará, junto com o Arquivo Nacional e a Fundação Casa de Rui Barbosa, da 2ª Semana Nacional de Arquivos, a realizar-se de 4 a 9 de junho, para chamar a atenção do público para o trabalho em arquivos de instituições arquivísticas, centros de memória e demais entidades detentoras de acervos, de natureza pública ou privada. O período foi escolhido para homenagear o Dia Internacional de Arquivos, celebrado em 9 de junho. Neste ano, o tema proposto pelo Conselho Internacional de Arquivos (ICA) é Governança, Memória e Herança.
O Apers programou diversos eventos, alguns em parceria com entidades detentoras de acervos documentais, nos quais serão apresentadas exposições, entre elas a mostra Caminhos dos Arquivos: Nossas histórias, nossas heranças, em suporte físico, para visitação pública, e virtual, principalmente para instituições do Interior. Ainda haverá filmes, teatro, fantoches, palestras, oficinas, visitas guiadas, jogo pedagógico, além das exposições Os Bichos Invadiram o Apers e Os Escoteiros no Arquivo (acampamento de escoteiro), em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho.
Uma das atrações mais curiosas será o júri simulado do processo da Maria Degolada. Na responsabilidade de guardião, com o intuito de divulgar seu acervo e de fomentar a colaboração com o público acadêmico, será promovido, em parceria com o Serviço de Atendimento Jurídico Universitário (Saju) do curso de Direito da UFRGS, uma simulação de julgamento com o processo de Bruno Soares Bicudo, algoz de Maria Francelina Trenes, mais conhecida como Maria Degolada, crime de grande repercussão, ocorrido em 12 de novembro de 1899, e que está no imaginário do povo gaúcho.
A vítima foi uma prostituta que, após ser morta pelo namorado, tornou-se parte do folclore de Porto Alegre e centro de um culto popular. Sobre ela pouco se sabe. Consta nos autos do processo do seu assassinato que tinha origem alemã e ganhava a vida como prostituta. Ela e o namorado, um soldado da Brigada Militar chamado Bruno Soares Bicudo, faziam um piquenique no Morro do Hospício. A certa altura, o casal teria começado a discutir. Maria atacou o namorado com um pedaço de lenha (e com um cano), e ele a matou, cortando seu pescoço com uma faca. Daí o apelido.
O assassinato repercutiu na imprensa e, pela sua brutalidade, causou horror na população. O soldado foi preso e condenado. Circularam várias versões sobre o caso e logo a população passou a venerá-la. No local onde foi morta, ergueu-se uma pequena capela em sua homenagem. Segundo a historiadora Sandra Pesavento, “ao ser morta, ela pôde virar santa, pois é vítima e era a loura mártir de um mestiço analfabeto e mal-encarado, personificando o drama de uma realidade de excluídos da qual ambos faziam parte... em uma Porto Alegre muito violenta”.
A transformação foi facilitada pela crença de muitos populares de que ela, na verdade, não era uma prostituta, mas uma “moça de boa família”. Seus devotos a consideram uma santa milagrosa, mas, de acordo com a tradição, ela não atende a preces de policiais. Seu nome batiza o antigo Morro do Hospício, hoje chamado Morro da Maria Degolada. O julgamento simulado será no dia 7 (quinta-feira), das 14h às 17h, no Auditório Marcos Justo Tramontini da Apers (Rua Riachuelo, 1.031, Centro Histórico – Porto Alegre).
São 50 vagas, com inscrições gratuitas, que deverão ser feitas até o dia 4 de junho pelo e-mail geipsaju@gmail.com, informando nome completo, CPF e cartão da UFRGS, caso tenha vínculo. Interessados terão de doar um item de higiene (creme dental e desodorante com embalagem transparente) na entrada do evento.