Conforme publicamos na terça-feira, na Linha Nova nasceram Henrique Ritter Filho, o mais velho, o irmão Carlos e o primo-irmão Frederico Jacó. Três empresários que fariam história no Rio Grande do Sul ao fundarem duas grandes cervejarias na virada de 1800 para 1900: a Cervejaria H. Ritter, na Capital, e a Cervejaria C. Ritter & Irmão, em Pelotas.
No início dos anos 1880, a firma de secos e molhados Trein & Ritter, dos cunhados Henrique Ritter Filho e Cristiano Jacó Trein, de São Sebastião do Caí, progredia rapidamente. Entretanto, a saúde do cunhado de Henrique, Guilherme Becker, fundador da Cervejaria Becker, em Porto Alegre, piorava. A pedido do pai, Henrique saiu da sociedade e mudou-se para a Capital para ajudar a prima-irmã, Elisabeth, na administração da cervejaria.
Seis anos depois, em 1894, após o segundo casamento de Elisabeth, com Bernardo Sassen, Henrique criou a própria cervejaria, na Rua Esperança, hoje Miguel Tostes. Embora modesta, a fábrica possuía notável produção.
Em pouco tempo, já não conseguia atender as encomendas, embora funcionasse dia e noite. Aconselhado pelo filho Frederico Augusto, mestre-cervejeiro formado na Alemanha – futuro fundador da Ritter Alimentos –, Henrique comprou uma área no Caminho Novo, hoje Rua Voluntários da Pátria, onde construiu nova fábrica.
Inaugurada em 1906, com equipamentos modernos, a Cervejaria H. Ritter & Filhos filtrava 30 mil litros de água por hora, para a produção de gelo e cerveja. Anualmente, produzia 3 milhões de garrafas das marcas Ritter Stout, Hercules, Continental, Diana, Capital, Favorita e Africana, além dos chopps Diana, Continental e Salvator. Para a distribuição, dispunha de 25 carroças e cem mulas. Junto à ferrovia e ao Guaíba, a empresa possuía ramal e trapiche próprios para expedição em vapores e trens. Até 1922 havia conquistado várias medalhas, entre elas, ouro na Exposição do Rio de Janeiro, em 1908, e na Expo Internacional de Turim, em 1911. No início de 1920, 90 pessoas trabalhavam na cervejaria, cujos sócios eram os filhos Waldemar, Oscar e Ricardo Ritter.
Em 1876, Carlos Ritter iniciou a produção de cerveja em um pequeno prédio alugado, próximo ao Arroio Santa Barbara, em Pelotas. Filho e sobrinho de cervejeiros, ele começou modestamente. Dez anos depois, sua cerveja era apreciada e reconhecida no RS e em outros estados do país. Com o crescimento do negócio, chamou o irmão Frederico Jacó para trabalhar com ele. Em 1883, Frederico viajou para a Alemanha, de onde voltou mestre-cervejeiro. Em 1885, os irmãos receberam a visita da princesa Isabel, em viagem ao Estado, que ouvira falar da cerveja e fez questão de prová-la. Em 1900, a Cervejaria C. Ritter & Irmão era uma das maiores cervejarias do Brasil. Produzia 4,5 milhões de garrafas por ano. Em 1911, exportou para os EUA mais de 230 mil litros. Arrecadou metade dos impostos auferidos pela prefeitura.
Quando Frederico Jacó morreu, em 1913, os sinos dobraram durante todo o dia, e o comércio fechou as portas durante uma hora, em homenagem a ele. A cervejaria passou, então, a chamar-se C. Ritter. Com o falecimento de Carlos Ritter, em 1926, sua esposa Auguste doou à universidade a coleção de animais empalhados e insetos, reunida pelo empresário e que constitui o acervo do Museu Carlos Ritter, cuja reinauguração, será dia 13 de maio.
Colaboração de Cynthia Oderich Trein