No dia 26 de outubro de 1906, “com sinceros cumprimentos do teu noivo”, alguém chamado Oscar encaminhou à amada o cartão-postal com essa cena da Praça da Matriz. Embora seja do mesmo local, a imagem nos remete a uma praça muito diferente da atual Praça Marechal Deodoro, na área central da cidade. É o coração cívico da Capital, onde se localizam os palácios que abrigam os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), além da Catedral Metropolitana e do Theatro São Pedro, de cuja varanda, aliás, deve ter sido tomada a antiga fotografia, base para a arte postal.
Ainda nos tempos da Vila, é presumível que tenha sido, essa praça, o local de moradia mais nobre: em 1786, quando ainda quase todas as transações imobiliárias se referiam a casas cobertas de palha, aparece compra e venda na Praça da Matriz envolvendo “morada de casas cobertas de telha”. O imponente Palácio Piratini, por exemplo, só teria sua pedra fundamental lançada três anos depois de Oscar, com sua caligrafia, gravar a dedicatória no cartão.
A velha igreja matriz da freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus, que aparece ao fundo, ao lado da capela que servia às festas da Irmandade do Divino Espírito Santo, da qual só se observa a ponta extrema do telhado, foi demolida na década de 1920 para dar lugar à construção da Catedral Metropolitana. O grande monumento a Júlio de Castilhos, agora principal ornamento situado na praça, só seria inaugurado em janeiro de 1913. Onde atualmente está a grande escultura, antigamente, como se pode ver, o espaço era ocupado pelas estátuas de mármore alusivas aos afluentes do Guaíba, posteriormente transferidas para a Praça São Sebastião (ao lado do Colégio Rosário) e, mais recentemente, realocadas nos jardins da Hidráulica do Moinhos de Vento. Outra curiosidade evidente é o quiosque chamado Pólo Norte, com mesas e cadeiras instaladas à sombra das poucas e ainda pequenas árvores ali plantadas.
Colaborou Jorge Silva
Fonte: livro Guia Histórico de Porto Alegre de Sérgio da Costa Franco