
Antes de ser transferida para Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul esteve situada em outras duas localidades. A primeira, Rio Grande, foi invadida por tropas espanholas em 1763, o que provocou a retirada da população e dos responsáveis pela administração para lugares mais seguros. Assim, a Capital e a Câmara foram transferidas para Viamão, que permaneceu como capital por 10 anos, quando toda a estrutura administrativa foi transferida para Porto Alegre.
A partir de pesquisas e da dissertação de mestrado de Adriano Comissoli, depreende-se que a mudança, além da alegada melhoria estratégica para o aparelho governamental, da facilidade de transporte fluvial e da melhor condição de defesa, também foi feita por razões ligadas à política local, que determinaram a transferência para Porto Alegre.
José Marcelino de Figueiredo, o governador, era uma figura de temperamento forte e que “acreditava não dever satisfações a ninguém além do próprio rei e de Deus”. O vice-rei do Brasil, Marquês do Lavradio, não tolerava ter as ordens questionadas. Em 1771, o vice-rei, farto do pouco caso de Marcelino, chamou-o ao Rio de Janeiro e nomeou um governador interino.
Na ocasião, a Câmara recebeu uma cópia do alvará régio que versava sobre a ordem de sucessão no caso de ausência ou morte de vice-rei ou governador. Os oficiais camaristas, baseados numa interpretação que lhes era favorável, concluíram que o afastamento determinaria que a administração fosse entregue a uma junta formada pelo bispo da capitania, pelo ouvidor e pelo oficial militar de patente mais alta. Como a capitania não tinha bispo, o preenchimento recairia sobre o vereador mais velho.
A pressão dos vereadores foi intensa, e cartas eram endereçadas diretamente ao rei D. José I, destacando que a falta de um governador efetivo era perigosa. Outras missivas também denunciavam imprudência na defesa do território e ações de contrabando na região fronteiriça em que o governador interino estaria envolvido. Lavradio ordenou a prisão dos que assinaram a denúncia, perdoando-os tempos depois.
A fragilidade do interino, que se transformou em alvo de ataques por parte da Câmara, obrigou o Marquês de Lavradio a voltar atrás e reempossar Marcelino. Apesar das restrições à postura de Marcelino, o vice-rei reconhecia a competência administrativa e militar dele para restabelecer a ordem.
O retorno de Marcelino
Fortalecido, Marcelino conseguiu a concordância do vice-rei para mudar a capital para Porto Alegre. Trazer a administração para um território neutro e de ocupação recente significava uma demonstração de força do governador. As questões legais foram, em seguida, providenciadas. Uma delas com a provisão régia de 26 de março de 1772, que desmembrou o Porto dos Casais de Viamão, criou a Freguesia de Porto dos Casais e anexou Viamão à nova freguesia.
Paralelamente, Marcelino escreveu ao governador interino para tratar da urbanização do Porto dos Casais. O engenheiro Alexandre José Montanha foi autorizado a fazer os traçados principais e a levantar, com as “dignidades precisas”, a igreja, o palácio e a Casa Real da Fazenda no lugar mais apropriado.
Em 1771, um dos membros da Câmara era José Francisco Silveira Casado, que, com outros vereadores, assinou as cartas endereçadas ao rei de Portugal. Quando houve a necessidade de avaliar a área em que seria instalada a nova capital, a Fazenda Real chamou-o para avaliar (“louvar”, nos termos da época) a área escolhida.

Além de ser eleito oito vezes para a Câmara da Capital, Silveira Casado foi tesoureiro da Santa Casa e fundou o Templo da Misericórdia. De sua união com Bibiana J. Bittencourt do Canto descendem as famílias Pires, Silveira, Casado, entre outras, incluindo figuras de expressão como o líder farroupilha Onofre Pires da Silveira Canto, o ex-governador do Rio de Janeiro Plínio Castro Casado; Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército de José Sarney, e o advogado Oswaldo de Lia Pires.
Colaboração de Lucien Paulo Bitencourt Pires