Em um cenário no qual o governo Jair Bolsonaro firmou acordo com apenas duas farmacêuticas, os brasileiros deverão ter paciência para receber uma dose da vacina contra a covid-19: até agora, não há doses garantidas para toda a população em 2021. E, com base nas compras efetuadas, os grupos prioritários terminarão de ser imunizados somente em junho.
O Ministério da Saúde firmou acordo apenas com a AstraZeneca, responsável pela vacina de Oxford em parceria coma Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e com a Sinovac, que fornecerá a CoronaVac via Instituto Butantan. Há, ainda, um contrato com o convênio Covax Facility, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir doses a nações em desenvolvimento.
As três iniciativas assegurarão, em 2021, 352,4 milhões doses, o suficiente para 77,6% da população. Mas a produção, que começará a se acelerar em abril, ainda dependerá da importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da China e das boas relações diplomáticas com o país asiático.
Para vacinar todos os brasileiros neste ano, será fundamental fechar acordos com mais laboratórios. O entrave é que não há, até agora, nenhum contrato de fato assinado com Pfizer, Janssen, Moderna, Bharat Biotech (Covaxin), Gamaleya (Sputnik V) ou outra empresa.
O Ministério da Saúde diz que tem interesse em adquirir todas, mas ainda não fez reserva e pagamento.
Em um cenário otimista de acordos assinados com tais laboratórios é que o governo federal prevê mais de 460 milhões de doses de vacinas em 2021, o que cobriria todos os brasileiros. Caso sejam confirmadas as compras anunciadas nos últimos dias da Sputnik V e da Covaxin, o total de doses no fim deste ano subiria para 490,4 milhões.
Na vida real, o país tem doses asseguradas para terminar de vacinar os 77 milhões de brasileiros nos grupos prioritários somente em junho: no primeiro semestre, os acordos atuais terão fornecido 153,5 milhões de doses por meio de Fiocruz, Butantan e Covax Facility – o suficiente para 76,75 milhões de brasileiros.
Se o Ministério da Saúde concretizar as negociações com Pfizer e Janssen, a meta de proteger os mais vulneráveis para a covid-19 seria alcançada um mês antes, em maio.
No segundo semestre, o Brasil terá 144,9 milhões de doses. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou que fecharia acordo para o Butantan fornecer mais 54 milhões de doses da CoronaVac, mas a instituição, contatada por GZH, não soube afirmar se o convênio já estava firmado. Tampouco houve divulgação de que o segundo contrato esteja fechado.
A falta de detalhes no cronograma de vacinação ainda traz lacunas, o que motivou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, a acolher pedido de PT, PSB, Cidadania, PCdoB e PSOL para cobrar da pasta um calendário pormenorizado para a vacinação dos grupos prioritários. Uma resposta deve ser entregue ainda nesta semana.
Entenda, a seguir, a linha do tempo da vacinação brasileira contra a covid-19: