O Rio Grande do Sul começa a percorrer o caminho de reabertura econômica no momento em que diversos países optam por flexibilizar as restrições ao funcionamento de empresas. Embora os processos guardem semelhanças, a diferença é de que a pandemia apresenta estágios diferentes em cada região.
Uma das nações com processo mais avançado de retomada é a Alemanha, que apostou na testagem em massa da população para frear a covid-19. Na última quarta-feira, a chanceler Angela Merkel anunciou que as atividades de todo o comércio e das escolas serão liberadas neste mês. Mesmo assim, medidas preventivas, como uso de máscaras e distanciamento dentro de lojas, devem ser mantidas.
— A Alemanha é um bom exemplo. Teve comportamento diferente de países como França e Itália, investiu em testagem, e a população demonstrou disciplina na quarentena. A retomada lá é um caso a ser observado — destaca o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.
O plano de flexibilização teve início em abril, com a reabertura de estabelecimentos comerciais de menor porte. Segundo o governo alemão, o avanço é possível porque a pandemia segue sem disparar. Até o momento, o país de 83 milhões de habitantes teve cerca de 167 mil casos de covid-19 e 7 mil mortes.
Enquanto isso, os primeiros impactos econômicos do vírus começam a ser medidos. Em março, a produção industrial alemã sofreu redução histórica de 9,2% — no Brasil, o tombo foi de 9,1%.
— A queda foi parecida com a brasileira. Começamos a ter uma ideia dos efeitos na economia. Cabe aos governos entender as diferentes etapas da pandemia — afirma Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ao apresentar a proposta de distanciamento controlado no Rio Grande do Sul, em abril, o governador Eduardo Leite disse que o Piratini observou experiências de países que já ultrapassaram a primeira fase do surto de coronavírus, como é o caso da Áustria. Por lá, a retomada gradual começou na metade de abril, com permissão para lojas de menor porte reabrirem as portas.
Agora, o país europeu, de população inferior à gaúcha, prepara-se para a segunda etapa do plano, com retomada de todo o comércio. Bares e restaurantes devem reiniciar os serviços em breve. O governo austríaco ainda recomenda o trabalho remoto, o distanciamento social e o uso de máscaras. Eventos públicos seguem suspensos pelo menos até o final de junho.
Na Europa, Portugal também tenta avançar na reabertura. Iniciado neste mês, o plano de retomada é dividido em três etapas. Cada uma tem duração prevista de duas semanas, e a ideia é permitir aos poucos a operação de empresas.
— Portugal entrou cedo na quarentena e agora pode flexibilizar as medidas para a economia, sem colapsar o sistema de saúde — menciona o economista Eduardo Correia, professor do Insper.
Além do movimento de retomada europeia, há exemplo de reabertura ao lado do Rio Grande do Sul. O Uruguai permitiu que grandes lojas varejistas voltassem a operar. Trabalhadores da construção civil e de parte das instituições públicas também receberam sinal verde para o recomeço das atividades. O país tem incidência de 22,6 casos de covid-19 em 100 mil habitantes, acima do número gaúcho (19,5) e o dobro do argentino (11,8), segundo os dados reunidos pela Secretaria Estadual da Saúde.
Ao analisar experiências internacionais, Mendonça de Barros ressalta que a retomada econômica na maior parte das regiões será complexa. Exigirá, segundo ele, o acompanhamento de informações epidemiológicas, modelo que está sendo traçado na proposta de distanciamento controlado no Rio Grande do Sul.
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Veja como seis países preparam reabertura da economia
Áustria
Iniciou a retomada gradual da economia na metade de abril. Inicialmente, autorizou a operação de lojas de menor porte. Agora, prepara a segunda etapa do plano, com reabertura de todo o comércio. Bares e restaurantes devem reiniciar os serviços em meados de maio. Controles nas fronteiras devem seguir pelo menos até o fim do mês.
Itália
Após cerca de dois meses de quarentena, iniciou plano de flexibilização na segunda-feira (4). Estimativa indica que cerca de 4,5 milhões de pessoas poderiam voltar ao trabalho no país, um dos mais abalados pelo coronavírus. Comércio varejista, bares e restaurantes ainda não foram autorizados a retomar o funcionamento.
Portugal
Adotou plano de reabertura em três etapas. Cada uma tem duração prevista de duas semanas. A primeira, que entrou em vigor neste mês, permite a operação parcial de pequenos comércios. A segunda é estimada para o dia 18, com retomada de cafés e restaurantes, além de lojas maiores. Eventos culturais e esportivos ficariam para a última fase, em junho.
Alemanha
Menos afetada pela covid-19 do que outros países europeus, pretende acelerar a retomada. Na quarta-feira (6), acordo foi costurado para permitir a abertura de todas as lojas e escolas a partir da próxima semana. Esses locais, entretanto, precisarão seguir medidas de prevenção. A depender da região em que estão inseridos, restaurantes e hotéis também poderão abrir.
Estados Unidos
Mesmo sendo o país mais afetado pelo coronavírus, ensaiam retomada gradual da economia. Em abril, o presidente Donald Trump lançou plano que autoriza os Estados a reabrir empresas de acordo com a realidade de cada região. Pelo menos metade do país já anunciou retorno de atividades. No Texas, por exemplo, lojas, restaurantes e shoppings podem operar com restrição de público.
Uruguai
Após sete semanas de restrições, iniciou na segunda-feira (4) processo de retomada econômica. Grandes lojas varejistas foram autorizadas a reabrir as portas. A projeção era de que 85% do comércio voltasse a operar, mas com horários reduzidos. Trabalhadores da construção civil e de parte das instituições públicas também receberam sinal verde para o recomeço das atividades.