Quarenta e dois dias após o Rio Grande do Sul confirmar o primeiro caso de coronavírus, o governador Eduardo Leite anunciou, nesta terça-feira (21), novo plano para enfrentar a pandemia e, aos poucos, permitir a reabertura de empresas. Batizado pelo Piratini como distanciamento social controlado, o modelo pretende liberar o operação de setores da economia gaúcha conforme as condições sanitárias das regiões em que estão inseridos.
O governo planeja colocar a iniciativa em prática no início de maio. Até lá, a ideia é deixar o modelo aberto a análises e sugestões de diferentes segmentos da sociedade, apontou Leite.
— Já que vamos conviver com o vírus por muito tempo, precisamos de um modelo de distanciamento sustentável. É esse equilíbrio que estamos buscando — disse o governador, que foi alvo nas últimas semanas da pressão de prefeitos e entidades pela reabertura de negócios.
Na apresentação do plano, o governo afirma que o distanciamento social controlado leva em conta dados científicos para "equilibrar prioridade à vida com retomada econômica". Segundo o Piratini, o aumento na quantidade de informações disponíveis sobre o coronavírus permitiria a mudança no Estado. Nesse sentido, Leite destacou parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para a elaboração de pesquisas relacionadas à covid-19.
A intenção do governo é criar um plano que permita a divisão do Estado em regiões. Cada área seria monitorada e classificada conforme o comportamento da pandemia e a capacidade da rede de saúde de atender a pacientes. A partir desses critérios, os locais seriam segmentados por um sistema de bandeiras nas cores verde, amarela, laranja e vermelha. Essa classificação, que estaria submetida a uma atualização constante, serviria para definir quais atividades poderiam ser retomadas ou não em cada região.
— É um trabalho de ciência, que vai nos permitir migrar para um modelo compreensível, que permitirá previsibilidade. As pessoas e os empreendedores poderão saber que logo à frente terão uma mudança de status e se planejar — pontuou Leite.
O Piratini também busca dividir as atividades econômicas em grupos, com a definição de protocolos para cada um dos setores. Assim, seriam formuladas condições e regras próprias para cada um dos segmentos, considerando a relevância deles para cada região do Estado.
A proposta de Leite recebeu elogios no meio empresarial. Nos próximos dias, entidades patronais devem encaminhar sugestões ao governo para estruturar o plano de retomada gradual dos negócios.
Embora a intenção do Piratini seja flexibilizar a operação de empresas a partir do início de maio, a reabertura de escolas e universidades tende a demorar mais. Em uma live promovida por GaúchaZH, Leite indicou nesta terça-feira que a retomada das aulas deve ocorrer em outro momento. Ainda não há uma definição de data para a volta das atividades presenciais.
— Considerando que a gente tem 20% da população gaúcha em escolas públicas municipais, estaduais, privadas, nas universidades, pode ser que a retomada das aulas fique mais distante — mencionou o governador durante a conversa com a colunista Kelly Matos.
Sem aulas desde 19 de março
Na rede estadual, os colégios não recebem alunos desde 19 de março. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o reitor da UFPel, Pedro Hallal, disse que não há possibilidade de a universidade retomar as aulas em 1º de maio.
Na apresentação do novo modelo, Leite fez questão de destacar que o isolamento social vem diminuindo os danos do coronavírus no Rio Grande do Sul. Conforme estudo da Secretaria de Planejamento, o Estado chegará ao final de abril com 62 mortes por covid-19 e mais de 300 vidas salvas desde o início das restrições.
Apesar de flexibilizar a operação de atividades econômicas, o governador sublinhou que a mudança não se trata de uma volta à normalidade. Segundo Leite, restrições impostas pelo coronavírus devem seguir por "longo tempo" no Estado. Ele ainda mencionou que, para lançar a proposta de distanciamento social controlado, o governo observou experiências vivenciadas por países que já ultrapassaram a primeira fase da pandemia, como é o caso da Áustria.
— Ainda vamos conviver com o vírus por bastante tempo. Muitas pessoas têm a ilusão de que ele vai passar. Não vai passar, vai continuar circulando. Não há expectativa de vacina no curto prazo — disse o governador.