Assim como começou antes de outros Estados a determinar paralisação de atividades, o Rio Grande do Sul se antecipa na adoção da estratégia de retomada que está em preparação em várias outras instâncias, da administração pública a entidades empresariais. São todas baseadas em protocolos – conjunto de condições e regras – adotados em países que entraram ou se preparam para adotar flexibilização da quarentena, como Coreia do Sul, Alemanha e Áustria. Uma de suas principais virtudes do "distanciamento controlado" é responder a uma das grandes queixas do setor produtivo: a incerteza.
Ao desenhar um cenário que embute o conceito de retomada "lenta, gradual e responsável", o governo gaúcho fornece um mapa do caminho para setores que, até agora, não conseguiam ver o amanhã. O plano que vai por segmento de atividade, com critérios uniformes sobre alto e baixo risco que combinam incidência de casos, capacidade do sistema de saúde e relevância econômica permite ao menos vislumbrar os próximos passos.
Um dos recados mais importantes está na definição do que o plano não é: nem flexibilização aleatória, nem abertura desordenada, nem volta à normalidade. Mas até por ser pioneiro, o plano assume o risco da escassez de dados e testes, ainda uma realidade brasileira, sem exceção. É sempre melhor um risco controlado e pactuado do que o descontrole, como começava a surgir com questionamentos judiciais a decisões de governo sem base em dados estruturados, mas apenas em percepção.
Epidemiologistas que tiveram acesso à apresentação compartilhada pelo governo do Estado na noite de segunda-feira (20) ponderam que o nível de informações fornecido pelo estudo coordenado pela UFPel ainda é frágil para sustentar a nova estratégia. No entanto, médicos que atuam na linha de frente do combate à pandemia no Estado estão convencidos de que os dados sobre número de casos e mortes até agora mostram que o distanciamento social entre os gaúchos deu certo, e não há outro caminho senão avançar para a próxima fase.
O fato de abrir o plano para consultas até a próxima quinta-feira (pelo e-mail distanciamentocontrolado@seplag.rs.gov.br) dá característica inclusiva à nova etapa do planejamento e tende a ser um amortecedor das pressões por abertura mais abrangente. Ao apresentar o plano, na manhã desta terça-feira (21), o governador Eduardo Leite deu um recado importante: o vírus, infelizmente, não vai embora. Está entre nós e vai ficar por um bom tempo, já que o sonho da vacina só deve ser atingido no próximo ano, se tudo der certo.
Depois de nos habituar a ficar em casa, temos de passar à próxima fase da reaprendizagem: conviver com checagem de temperatura, uso de máscaras, distanciamento físico no convívio gradualmente recuperado e restrição de horários. E, talvez, dar um passo atrás no caminho caso a realidade volte a mudar.