No papel, o plano de retomada gradual das atividades econômicas detalhado pelo governador Eduardo Leite nesta terça-feira (21) é perfeito. Tem começo, meio e fim, baseia-se em dados e evidências científicas sobre o coronavírus e é flexível para se ajustar a variáveis como o aumento do número de casos em determinada região. Na prática, a aplicação é difícil. O problema é que o sucesso depende do engajamento da população em geral e dos líderes do setor produtivo em particular.
O fato de o Estado ter conseguido achatar a curva de contaminação, o que evitou uma explosão de demanda por leitos hospitalares, provoca em boa parte da população o sentimento de que as medidas restritivas eram desnecessárias. Como provar que é o contrário? Que foi o isolamento social o responsável pelos números que mostram o Rio Grande do Sul com índices de letalidade bem inferiores à maioria dos Estados brasileiros?
Os estudos coordenados pela Secretaria do Planejamento e realizados por uma equipe multidisciplinar indicam que o Estado chegará ao final de abril com 62 mortes por covid-19 e que mais de 300 vidas foram salvas desde o início das restrições. Como não há como provar a hipótese, os descrentes agem como quando desdenham as providências adotadas para coibir o número de acidentes: desprezam os estudos.
O fato é que o Rio Grande do Sul teve até aqui um número baixo de mortes em comparação até com Estados de menor população, como Santa Catarina, e não há ameaça de colapso na rede hospitalar, como no Amazonas ou no Ceará. Mesmo com números positivos, Leite sabe que não dá para relaxar. Na apresentação, o governador avisou que os próximos meses serão de atenção total. E usou a expressão “momentos críticos” para se referir ao mês de julho.
Uma das dificuldades do plano de isolamento controlado é o mapeamento das regiões e setores da economia, para definição dos níveis de risco e atribuição das cores verde, amarelo, laranja ou vermelho. Essa equação leva em conta, principalmente, o número de casos, as internações e a oferta de leitos. O governador reconheceu que não é possível manter as restrições severas por muito tempo e, por isso, a abertura será gradual, mas com possibilidade de fechamento se os números indicarem risco de a situação sair de controle.