Uma das principais pautas defendidas pelas entidades empresariais do Rio Grande do Sul nas últimas semanas, a retomada das atividades econômicas será atendida, ainda que parcialmente. Anunciada pelo governador Eduardo Leite nesta terça-feira (21), a estratégia de distanciamento social controlado a ser adotada a partir de maio é vista com bons olhos por empresários gaúchos, apesar de ter alguns aspectos contestados.
A ideia do governo é montar um plano que permita monitorar o avanço da pandemia do coronavírus por regiões, determinando quais locais do Estado e que atividades podem ser liberadas, liberadas com restrições ou restringidas. A análise setorial seria realizada para cada uma das sete regiões definidas na estratégia, levando em consideração o risco de transmissão do vírus e a relevância econômica, por meio de aspectos como número de empregos gerados, contribuição para a economia e capacidade de arrecadação.
As entidades empresariais figuram entre as que serão ouvidas para montar o plano que permitirá a flexibilização do distanciamento social. O presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, destaca que o comércio anseia pela reabertura das lojas, com adoção de protocolos de segurança. Nesse sentido, uma das sugestões que deverão ser encaminhadas é a exigência do uso de máscaras de proteção pela população.
— O retorno será gradual e com segurança. Não quer dizer que ali adiante não tenhamos de retroceder, como aconteceu em outros países. Mas, neste momento, tudo o que esperamos é voltar à atividade, pois o cenário atual é insustentável — destaca o dirigente.
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, avalia como “correta” a ideia proposta por Leite. O dirigente ressalta, porém, que para o agronegócio nada deve mudar em relação ao cenário atual. Isso porque o Estado segue em plena colheita dos grãos de verão, como soja, milho e arroz, e a produção de alimentos não foi interrompida.
— O setor seguiu funcionando normalmente e deverá seguir assim. Até porque somos responsáveis pela produção do alimento de hoje e de amanhã e temos de garantir o abastecimento — reforça.
Entre dirigentes de diferentes segmentos há o entendimento de que o Estado já poderia ter flexibilizado a abertura das empresas, sobretudo em setores considerados de baixo risco. O prazo estabelecido pelo governo para coleta das sugestões das entidades também é questionado. O governo deve receber as propostas até quinta-feira (23) e dar retorno na próxima terça-feira (28). Para alguns dirigentes, seria necessário maior agilidade neste momento.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Gilberto Petry, aponta que a entidade enviará sugestões para a construção do plano de retomada, mas defende a antecipação da volta da produção nas fábricas na segunda-feira (27).
— Para quem está sem oxigênio, caso das empresas que estão sem produção e faturamento, qualquer minuto pode fazer a diferença para sobreviver — compara Petry.
Efeitos da retomada
Ainda que a mudança de estratégia do Estado permitirá que muitas empresas abram novamente, a retomada dos negócios não deverá ser imediata, principalmente no comércio e no setor de serviços. Essa é a avaliação do economista e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Gustavo de Moraes. Isso porque a retomada ocorrerá em um momento no qual a população vem perdendo poder aquisitivo, seja pela diminuição dos salários ou pelo aumento do desemprego.
— A reabertura, ainda que com restrições, atenua os efeitos da crise na economia. Mas vai demorar mais tempo para alguns setores, como o de serviços, se restabeleçam. Por outro lado, a tendência é que a indústria tenha uma recuperação mais rápida — acredita.
O economista lembra que muitas atividades econômicas estão paralisadas há mais de 40 dias. Sendo assim, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul deverá sofrer forte queda, acima da média nacional. A estiagem, que provocou perdas nas lavouras neste ano, deve intensificar o processo. Moraes não descarta que a retração chegue a 10% no PIB gaúcho neste ano.