Três entidades empresariais do Rio Grande do Sul uniram-se nesta quinta-feira (26) para pedir o retorno gradativo das atividades econômicas a partir de 1º de abril. O manifesto Pela Reativação da Economia Gaúcha, assinado pelas federações das Indústrias (Fiergs), da Agricultura (Farsul) e do Comércio de Bens e de Serviços (Fecomércio), alerta para "ameaça de desabastecimento que poderá ocorrer caso se prolonguem, além de um limite razoável, as proibições de atividades empresariais".
Pela proposta, as empresas operariam com metade do quadro de pessoal a partir de 1º de abril e retornariam à totalidade em 6 de abril, "quando o isolamento horizontal já terá cumprido 16 dias". Em contrapartida, os empresários teriam de atender às recomendações de saúde, como garantir o teletrabalho aos grupos de risco, o distanciamento entre pessoas e firmar "protocolos de contingência".
O documento alerta, ainda, para o risco da falta generalizada de produtos, desde o campo até as lojas. "Ainda há tempo de evitarmos o empobrecimento abrupto e irreversível da sociedade". A nota termina com as entidades reiterando "que o bom senso deve prevalecer nesse momento atípico, sem aprofundar ainda mais os problemas sociais decorrentes de um colapso econômico".
Na quarta-feira (25), a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) divulgou nota pedindo que as autoridades repensem as estratégias de contenção da pandemia de coronavírus. A publicação alega que isolamento social e fechamento total dos serviços não essenciais pode causar problemas nos próprios atendimentos de saúde onde se combate a covid-19.
"A abrupta parada nas atividades econômicas de tantas cadeias produtivas impede a chegada de peças e insumos para o abastecimento das atividades essenciais, o oxigênio precisa chegar aos hospitais, os transportadores precisam se alimentar", destaca a nota.
O texto ressalta que o objetivo da Federasul é "salvar vidas" e que, por essa razão, as medidas de prevenção devem ser repensadas "antes que a falta do básico provoque perdas ainda maiores de vidas humanas".
A sugestão da entidade é que apenas as pessoas dos grupos de risco adotem o isolamento social, que todos observem as orientações e cuidados individuais e que horários de trabalho sejam administrados para evitar superlotação nos transportes públicos.
O pleito pela flexibilização da quarentena é seguido também por associações empresariais de alguns municípios do Interior. Por meio de nota, o Sindilojas Hortênsias defendeu o retorno de 50% dos trabalhadores a partir de 1º de abril e o restante, no dia 6 do mesmo mês, desde que sejam respeitadas medidas preventivas, como hábitos de higiene e alteração em jornadas de trabalho.
Em Cachoeira do Sul, na Região Central, manifestantes realizaram carreata na tarde desta quinta-feira, pedindo a reabertura do comércio no município.
A Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e especialistas já declararam que a contenção social apenas dos grupos de risco não é eficiente para frear a pandemia. Além de o coronavírus infectar e levar a óbito pacientes de todas as idades, ambientes frequentados apenas por pessoas sem agravantes também podem ser potenciais disseminadores do vírus e levar o sistema de saúde igualmente a uma crise por superlotação.
Leia o manifesto na íntegra:
PELA REATIVAÇÃO DA ECONOMIA GAÚCHA
As entidades signatárias deste manifesto – plenamente engajadas nas recomendações relativas à Covid‐19 ‐ manifestam sua preocupação com a ameaça de desabastecimento que poderá ocorrer caso se prolonguem, além de um limite razoável, as proibições de atividades empresariais.
Nas exceções a segmentos industriais e comerciais, por exemplo, os municípios não estão levando em conta as cadeias de fornecedores que, mesmo fora da área de saúde e alimentar, são essenciais para que o produto final exista, em uma cadeia que não pode ter nenhum elo quebrado. De nada adianta a agricultura produzir se o produto “in natura” ou industrializado não chegar ao consumidor. No curto prazo, corremos o risco da falta generalizada de produtos, desde o campo até as lojas. Assim, o sacrifício será de toda a população. Ainda há tempo de evitarmos o empobrecimento abrupto e irreversível da sociedade.
A proposta que apresentamos nesse momento difícil é o retorno gradativo das atividades econômicas, permitindo que as empresas – atendendo as recomendações de saúde, como o teletrabalho dos grupos de risco, o distanciamento entre pessoas, etc., firmando protocolos de contingência – possam operar com 50% de pessoal nas suas atividades a partir do dia 1º de abril, e retomando a 100% em 6 de abril quando o isolamento horizontal já terá cumprido 16 dias.
Entendemos que o bom senso deve prevalecer nesse momento atípico que enfrentamos, sem aprofundar ainda mais os problemas sociais decorrentes de um colapso econômico.
Porto Alegre, 26 de março de 2020.
FARSUL FECOMÉRCIO FIERGS