— Aqui tem cobra? Elas são venenosas? — quis saber Ana Clara Silveira Soares, 10 anos, enquanto caminhava em direção ao ponto de início da trilha do Horto Florestal do Litoral Norte.
A resposta afirmativa do monitor ambiental da área, Enilson Carmo Montardo, gerou uma dúvida na irmã mais nova.
— Ô tio, pode encostar nas que não são venenosas? — questionou Alice Silveira Soares, quatro anos.
Acompanhadas dos pais, José Ricardo Soares, 36, e Caroline dos Santos Silveira, 35, as meninas percorreram o percurso de 1,1 quilômetro dentro da unidade de conservação, na tarde desta terça-feira (23). A trilha de 50 minutos, com grau de dificuldade leve, aguçou a curiosidade de toda a família, que é de Porto Alegre e está curtindo as férias em Imbé.
Criado em 1935, o Horto Florestal está localizado na entrada de Tramandaí e é uma das unidades de conservação do Rio Grande do Sul. O local recebeu esse título apenas em 1993. Com 45 hectares e visitação gratuita, a área protegida oferece uma alternativa de passeio para quem busca conexão com a natureza para além da praia.
O espaço é destinado à conservação dos ecossistemas existentes na região, ao estudo e à multiplicação de plantas nativas, à pesquisa e à educação ambiental. Dentro do horto, servidores produzem mudas de plantas, que são doadas para os visitantes. Além de moradores do entorno e turistas, o local recebe muitas escolas de diferentes cidades gaúchas durante o ano letivo e universitários.
— Aqui sempre foi feita a produção de mudas nativas e exóticas, porque antigamente as exóticas eram usadas para conter as dunas. Em 1993, virou uma unidade de conservação, por causa da proteção à fauna e à flora que tem aqui, além da produção das nativas. E a ideia é trabalhar com educação ambiental e incentivar o plantio das árvores — explica o gestor do local, Renato Buhler.
Quem visita o espaço pode percorrer a trilha, se tiver feito agendamento prévio, ou apenas aproveitar o dia na sombra das árvores. De acordo com Montardo, muitos levam alimentos para fazer piquenique no local. Além de pegar de três a cinco mudas de presente, é possível obter dicas de onde e como plantar as árvores em casa.
Como é a trilha
A trilha do Horto Florestal só pode ser feita com guiamento, ou seja, sempre há um servidor acompanhando o percurso. No início do trajeto, uma placa indica que não é permitida a entrada sem autorização. Antes de começar, o monitor ambiental explica sobre a história do território, o tempo de percurso e quais animais é possível encontrar no caminho — jacarés, tartarugas, lagartos, aranhas e capivaras estão nessa lista.
O grau de dificuldade é considerado leve, por isso, o percurso pode ser feito por crianças e adultos de todas as idades. Ao todo, são 10 estações, mas Montardo avisa que, a partir da quinta, pode haver um pouco de lodo, o que aumenta a dificuldade. O monitor ambiental segue o trajeto esclarecendo dúvidas e repassando informações sobre as árvores e plantas existentes no local.
Após cerca de 10 minutos de caminhada, os visitantes deparam com uma ponte, localizada sobre o lago do horto. Além de uma bela paisagem, a parada permite observar os jacarés — a mãe e os três filhotes — que estão dentro da água. O antigo ninho do animal ainda pode ser visto em um trecho anterior da trilha.
Conforme Montardo, a manutenção da trilha é feita semanalmente, em função da chuva e do vento. De toda forma, há alguns trechos mais difíceis, com árvores caídas no meio do percurso, que requerem um pouco mais de cuidado e esforço — Ana Clara e Alice contaram com a ajuda dos pais para passarem por esses trechos.
Ao longo do trajeto, as meninas tiveram mais dúvidas sobre os animais que poderiam encontrar, mas não demonstraram medo quando depararam com as aranhas, por exemplo. Professora de Biologia e Ciências dos anos finais do Ensino Fundamental, Caroline também ficou empolgada e fez perguntas durante a trilha — ela aproveitou o passeio para ter ideias do que fazer com seus alunos, quando iniciar o ano letivo.
— Em família, vez ou outra fazemos algo assim, porque, como eu sou da área, gosto bastante. Quando eu e meu marido namorávamos, fazíamos bastante esses passeios no Jardim Botânico, em Porto Alegre. E hoje, como o dia está bom, mas tem bastante vento na beira da praia, decidimos fazer algo diferente e ver o que tinha para conhecer em Tramandaí — relata Caroline, que escolheu mudas de árvores para plantar na escola onde trabalha.
A professora conta que cresceu em contato com a natureza e que a trilha ajudou a trazer algumas lembranças da infância. Além disso, foi uma forma de proporcionar uma experiência diferente para as filhas. Portanto, em sua avaliação, o passeio foi muito bom.
— É poder entrar em conexão com a natureza, uma coisa que, na correria do dia a dia, a gente não tem o hábito. Parar, olhar para uma árvore e ver como ela é bonita, respirar fundo. Mas elas não conhecem isso, é uma realidade paralela, então poder proporcionar isso para elas é bacana. Foi uma experiência muito, muito boa mesmo! Mas as (aranhas) armadeiras me deram um nervoso — confessa, rindo.
Como visitar
O Horto Florestal atende de segunda a sexta-feira, das 8h ao meio-dia e das 13h às 17h. O acesso ao local é gratuito e, caso a pessoa queira apenas visitar, não é necessário realizar agendamento. A trilha guiada também é ofertada sem cobrança alguma, mas somente a partir de agendamento prévio pelo número ou e-mail indicados abaixo:
- Telefone: (51) 3684-7742
- E-mail: horto-florestal@sema.rs.gov.br
- Instagram: @hortotramandai
- Endereço: Avenida Fernandes Bastos, 3.145, em Tramandaí