O curioso Levi Tiburski, de apenas quatro meses, acompanhava com o olhar e muitos sorrisos as músicas do quarteto de violoncelos. Em tratamento de uma infecção urinária no Hospital Criança Conceição, o pequeno escutou pela primeira vez o instrumento de cordas.
— Ele gostou muito. Eu também, nunca tinha visto assim de perto, ainda mais no hospital. É muito lindo — disse a mãe de Levi, Mariluz Tiburski.
O menino foi um dos pacientes que tiveram uma surpresa cheia de notas musicais na tarde desta quinta-feira (9) na instituição da Capital. Os recitais fazem parte de um projeto da Escola de Música da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), o Escola da Ospa na Comunidade, que promove apresentações em locais onde a música não costuma ter espaço.
No hospital, os dois quartetos de estudantes de violoncelo se revezaram em diferentes andares e alas da instituição. Os pequenos recitais, que aconteciam no corredor, iam de Beethoven ao tema de Star Wars. E levavam um pouco de conforto para pacientes, familiares e funcionários. Quando anunciavam que iriam tocar uma música do filme Shrek, Hallelujah, as crianças se animavam ainda mais. Amazing Grace e Over the Rainbow também fizeram parte do repertório.
Na plateia da ala de oncologia, o pequeno Manoel Porto Luz, de quatro anos, acompanhou do colo da mãe, Marilene, a apresentação. Ele voltou a ser internado no hospital nesta quinta-feira, depois de um ano livre da quimioterapia. Na segunda-feira, ele deve voltar às sessões, pois o tumor de Wilms, um tipo de câncer renal comum na infância, voltou. Para a mãe do menino, a música deu uma força extra para encarar essa difícil etapa.
— É um período triste, mas tem que encarar, porque uma mãe está disposta a fazer tudo pelo seu filho. Tem que engolir o choro e seguir em frente — disse Marilene, determinada.
A iniciativa também foi bem-recebida pelos profissionais do hospital. O diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição, Francisco Paz, comentou que momentos que envolvem arte, cultura e música ajudam no dia a dia dos internados.
— É um esforço muito importante para os pacientes atingirem bem-estar e a cura. A música é um elemento muito importante no tratamento, ainda mais música de qualidade.
Além de ser um estímulo para aqueles que estão em tratamento, a iniciativa também mexe com os alunos da Escola da Ospa. Ao todo, oito estudantes, entre 13 e 18 anos, tocaram. A mais nova do grupo, a estudante Calíope Corrêa, de 13 anos, apresentou-se pela segunda vez em um hospital. Disse que a experiência é uma forma de levar um pouco de alegria para as pessoas.
O diretor da Escola de Música da Ospa, Diego Grendene de Souza, que ajudou a idealizar o projeto há cinco anos, confirma isso. Ele lembra que o objetivo é levar música para locais que normalmente não têm esse privilégio.
— O hospital é um local muito difícil e sabemos que a arte tem o poder de transformar a percepção de realidade das pessoas. Para nossos alunos, também é importante para ter a dimensão social do que fazem, que a música não se restringe à sala de concerto — diz Souza.
Sobre o projeto
A iniciativa Escola da Ospa na Comunidade foi lançada em 2015 e já promoveu mais de 60 recitais de grupos de alunos em hospitais, escolas, lares de idosos e bibliotecas da Capital gaúcha e da Região Metropolitana.
Para o segundo semestre, as instituições interessadas em receber recitais pelo projeto devem entrar em contato com a Escola de Música da Ospa pelo telefone (51) 3228-6737 ou pelo e-mail escolademusica.ospa@gmail.com.