"Imagina uma pessoa chegando em uma emergência, numa situação complicada, e encontrar música". A cena sugerida pelo diretor da Escola da Ospa. Diego Grendene de Souza, estava a minutos de se tornar realidade sob a imponente marquise da Emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Perto das 15h, quando os alunos da orquestra chegaram ao saguão com seus instrumentos para dar início à primeira edição do ano do projeto Escola da Ospa na Comunidade, que leva a música a ambientes em que, normalmente, ela não está presente.
— Esse é nosso objetivo, levar a música para lugares em que ela costuma não estar, mas também é uma forma de mostrarmos para nossos alunos a função social da música. Ela é transformadora e, aqui, a gente pode tirar a pessoas de uma realidade de sofrimento ao menos temporariamente — diz Grendene.
Entre os tubos, as trompas acharam seu espaço. Entre macas e cadeiras de rodas, trompetes e outros metais ressoavam doses de conforto e, assim, aos poucos, os setores que receberam o projeto foram invadidos pela musicalidade dos alunos.
— Queremos alegrar as pessoas e eu espero que o pessoal goste — almejava a trompista Victória Cappelletti, 16 anos, enquanto afinava seu instrumento.
Entre os pacientes, o momento foi de contemplação e admiração. Alguns, em desgastantes procedimentos, mantinham o ouvido atento. Teve até parabéns a você para um paciente. Como podiam, iam absorvendo os acordes. A professora de Educação Física Angélica Adamoli, do Serviço de Educação Física e Terapia Ocupacional da unidade de Hemodiálise do Clínicas é uma entusiasta de ações desse tipo dentro dos hospitais. Onde trabalha, os pacientes já recebem, junto aos tratamentos, atividades físicas, de cultura e lazer e meditação, mas o inusitado de projetos externos é uma saudável quebra na rotina dos atendimentos.
— Aqui na diálise, os pacientes vêm três vezes por semana e ficam quatro horas ligados a uma máquina que faz a função dos rins. Então, muitos estão fragilizados, têm suas atividades sociais limitadas e encontram nesses projetos a oportunidade de escutar algo que gostam e ver pessoas diferentes — diz.
Há três meses numa batalha contra problemas respiratórios, Heloísa Caldas, 52 anos, ficou extasiada com as apresentações e fez questão de cumprimentar os instrumentistas.
_ Para mim, a música, a arte, é uma expressão de amor _ disse, emocionada.
O benefício da intervenção musical não ficou restrito aos pacientes. Médicos, enfermeiros, técnicos e funcionários também estavam eufóricos com a visita.
_ Para nós, que estamos sempre buscando ânimo, é um up _ disse, entusiasmada, a pedagoga Paula Eustáquio, chefe de serviço do oitavo andar da internação.
Lançado em 2015, o projeto Escola da Ospa na Comunidade já promoveu cerca de 60 recitais de alunos em hospitais, escolas, lares de idosos, centros de assistência social e bibliotecas.
A proposta permite que estudantes pratiquem suas performances e ainda compartilhem o aprendizado com públicos que nem sempre têm acesso às salas de concerto. Nos últimos três anos, a iniciativa visitou locais como a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul (Fase), o Hospital da Criança Santo Antônio, o Presídio Central de Porto Alegre, o Asilo Padre Cacique e Hospital o Psiquiátrico São Pedro.