Não se trata mais de discutir sobre a utilização ou não de gramados sintéticos no futebol do Brasil. As arenas do Athletico-PR e do Palmeiras mostram uma qualidade de piso razoável, embora fiquem distante do ideal, que só se atinge com grama natural. Para se ter ideia, nem no belo estádio de teto retrátil de Curitiba, ou na moderna casa de espetáculos que também serve ao futebol palmeirense em São Paulo poderia haver jogos de Copa do Mundo, pois a Fifa não permite onde não há condição natural do campo. Isso, porém, é irrelevante diante da aberração que existe em Porto Alegre. É impraticável o futebol no estádio do Passo D'Areia que sugestivamente recebeu recentemente o nome de Francisco Novelletto.
O ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol prestou um serviço inestimável ao futebol do Rio Grande do Sul quando, anos atrás, implementou um grande projeto para padronização em alto nível dos gramados nos estádios que servem à divisão especial. Uma das mais renomadas especialistas no assunto no Brasil, a engenheira agrônoma Maristela Kuhn, foi chamada por Novelletto e houve uma verdadeira revolução nos principais campos de futebol do Estado. Se é verdade que em alguns casos a manutenção deixou a desejar, as condições altamente prejudiciais que se tinha no interior há algumas décadas foram minimizadas. Acabou a história de se "jogar em potreiro".
Houve, porém, um pecado cometido pelo clube que tinha Novelletto como seu manda-chuva. O São José em 2010 decidiu por colocar grama sintética no Estádio do Passo da Areia. O resultado nunca foi bom para o futebol. Em 2019, houve uma troca que pouco adiantou. Diferentemente do que se vendeu como ideia, a tecnologia usada não era a mais moderna e os anos mostraram uma manutenção deficiente até chegar a um estágio lamentável como se está vendo no atual Gauchão.
O que se joga ali é outro esporte. A bola fica incontrolável e até o aspecto visual denuncia que há defeitos. Até quem defende o uso da grama artificial está envergonhado com o exemplo do Zequinha. Basta falar em particular com profissionais que trabalharam ou trabalham no clube para ouvir as piores críticas sobre o horroroso piso.
O recente jogo entre São José e Grêmio foi apenas mais um de tantos que já aconteceram ou que seguirão acontecendo até que se dê um basta nesta situação em nome do futebol. Não se trata de tirar o tradicional Zequinha de sua casa, mas obrigá-lo a mudar o piso. Embora seja pior do que a grama natural, a troca pode ser até por um novo piso sintético, desde que de boa qualidade. O que existe hoje é inadmissível até para o dono da casa. Nem as quadras alugadas de futebol society de Porto Alegre são tão ruins quanto o Passo da Areia. Que fique como ponto de honra dos organizadores do Gauchão para 2022 o banimento do atual gramado do Estádio Francisco Novelletto.