Se não fosse sintético, a Arena da Baixada teria um dos piores gramados do país — ou precisaria investir pelo menos três vezes mais. Construída em uma cidade com clima frio e chuvoso e encravada dentro de uma estrutura que, por seu desenho arquitetônico, recebe baixa irradiação solar, a moderna casa do Athletico-PR não é propícia para o plantio de grama natural. A solução encontrada pelos dirigentes foi adaptar um campo artificial, realizar manutenção constante e zelar pelo patrimônio.
O gramado sintético suscita dúvidas, levanta polêmicas, faz treinadores criarem frases de efeito (quase sempre para justificar derrotas) e vira o centro das atenções cada vez que o Athletico-PR se prepara para alguma partida importante. E só essa atenção exagerada já é suficiente para influenciar no desempenho dos jogadores.
— O melhor é que não fale sobre o assunto. Porque, na Arena da Baixada, os componentes do campo dão toda a sensação de ser natural, até na sujeira ao cair no chão. A sensação é fundamental para o atleta — argumenta Christian Truda, representante da empresa Limonta Sport, que instala gramas artificiais no Brasil, mas sem vínculo com o Athletico-PR.
Especialista em campo artificial, Truda defende a qualidade do campo paranaense. Mas nem precisaria, porque a Fifa mesmo dá a chancela. O clube investiu R$ 2,5 milhões para instalar o gramado e não economiza na hora de fazer a manutenção periódica, bem como a preservação. Tudo isso fez o piso ser aprovado nos testes mais rigorosos da categoria Pro, a mais alta possível que oferece a entidade organizadora do futebol mundial.
Dois exemplos dos testes pelos quais passou a Arena da Baixada: o da rotação de joelho e o do rebote da bola. O primeiro envolve uma chuteira especial construída justamente para simular os movimentos de um atleta em um campo de futebol. O segundo é matemático: a bola é solta a dois metros de altura. Ao quicar, precisa subir a uma altura entre 40 e 80 centímetros. No estádio atleticano, o último teste mostrou a bola alcançando 65 centímetros. O resultado é igual ao do Beira-Rio, do Maracanã, do Santiago Bernabéu ou de qualquer campo natural.
— A vantagem é que não tem buraco. O campo é parelho — completa Truda.
Boas lembranças do sintético
Jogar em gramado sintético não é propriamente novidade para o Inter. Além de periodicamente enfrentar o São José a cada Gauchão e o próprio Athletico-PR nas competições nacionais, o campo artificial traz boas lembranças aos colorados. Foi em um carpete assim que, há nove anos, a equipe abriu vantagem na final da Libertadores, ao ganhar do Chivas por 2 a 1, no México.
— O gramado era top. Ótimo para jogar — resume o ex-lateral-direito Nei, presente em campo naquela final, atualmente auxiliar técnico do Almirante Barroso, de Balneário Camboriú.
Segundo o ex-jogador, não foi preciso fazer nada de diferente para se adaptar ao gramado. O estilo de jogo foi mantido, a equipe não teve de usar mais ou menos ligação direta. Nem mesmo mudar de chuteira. Bastou entrar em campo e jogar. A única atenção especial necessária foi entender a velocidade da bola, que desliza um pouco mais rápido. Mas, mesmo em campos naturais, isso pode variar. O Corinthians, por exemplo, que mantém um gramado mais baixo e mais úmido do que a média, deixa o jogo "vivo" nos primeiros minutos.
A irrigação, aliás, é um dos segredos para manter a qualidade do gramado da Arena da Baixada. O composto orgânico misturado às borrachas pretas que sustentam o campo retém líquido e garante mais tempo de umidade ao campo. É por causa disso, também, que os carrinhos ou as quedas não queimam tanto quanto aquelas que sofrem os jogadores de fim de semana em campos artificiais de futebol society. E é por isso também que os atletas usam chuteiras normais e não modelos de travas baixas. Ou seja, tudo igual a um campo normal.
São nesses primeiros minutos que mora a vantagem do dono da casa, mais acostumado ao campo. Segundo Rafael Jaques, técnico do São José, a velocidade interfere no controle para a equipe adversária:
— Com o gramado irrigado, fica mais veloz. Por isso, quem não está tão acostumado tem mais dificuldade para dominar no início.
Por isso, será importante o trabalho que a equipe fará nesta terça-feira (10), às 18h30min, no estádio. Os jogadores farão uma atividade na Arena da Baixada até para refrescar a memória de quem só atuou lá no ano passado. No Brasileirão 2019, apenas o goleiro Marcelo Lomba e o volante Rodrigo Lindoso estiveram em campo no confronto entre as duas equipes, em julho, pela 10ª rodada.
— Treinar lá é bastante importante porque o Athletico-PR não tem esse hábito de deixar (o adversário) treinar lá. Então, tem que parabenizar a nossa e a direção deles, que tiveram a compreensão do tamanho dessa decisão — disse Edenilson.
No fim das contas, o que o Inter precisa é fixar-se nas palavras de Nei sobre a Arena da Baixada:
— O gramado é perfeito. Ótimo para jogar.
COMPARE
ARENA DA BAIXADA
Investimento de instalação: R$ 2,5 milhões
Base: borracha e composto orgânico
Característica: grama mais alta, irrigada para deslizar e dar mais velocidade ao jogo
PASSO D'AREIA
Investimento de instalação: R$ 1,2 milhão
Base: borracha
Característica: grama intermediária, que necessita ser irrigada mais tempo pela falta do composto orgânico
CAMPO PADRÃO FUTEBOL 7
Investimento de instalação: R$ 100 mil
Base: borracha
Característica: grama mais rala, pouco irrigada pela frequência de uso