O Inter está doente. A fissura política que se estabeleceu faz com que o clube esteja em constante estado de guerra e embretado na busca de soluções para recuperar sua saúde. Institucional e financeira.
A votação das debêntures mostrou que a divisão política segue sua escalada na polarização. A eleição presidencial de 2020 já havia demonstrado a temperatura em elevação e chegou a ter capítulos na Justiça. Em 2023, a votação da adesão à LFU colocou em lados opostos grupos bem definidos, que se enfrentaram com tom acirrado na eleição presidencial do final do ano. Em todos esses episódios, discussão de projetos, debate sobre novos modelos de gestão e estudos para entender o novo ecossistema do futebol brasileiro ficaram sempre em segundo plano para um debate barulhento e acusatório, pontuado por estratégias que incluíam até mesmo batalhas midiáticas a partir de influencers alistados por ambos os lados.
Enquanto isso, o Inter, a razão de todos estarem naquele Conselho, adoecia. Neste momento, vemos um clube encalacrado, com dívida que cresce de maneira assustadora e produz juros anuais de R$ 80 milhões que sentam à mesa com ele. O projeto das debêntures seriam um tratamento paliativo para isso. Estava longe de ser a solução dos problemas do clube — até porque a coleção deles é longa. Os R$ 200 milhões a serem captados no mercado ajudariam a aliviar a dor e permitiram ao clube sair da UTI e seguir o tratamento no quarto, mas monitorado e com medicação e cuidados contínuos.
O adoecimento do Inter fica exposto no instante em que nenhuma outra solução é apresentada. É corretíssima e importante a preocupação dos conselheiros com o fato de o Beira-Rio ser colocado como garantia. Porém, nenhuma outra via foi colocada. Nenhuma alternativa foi construída. Debateu-se o ponto mais polêmico e ignorou-se a razão principal de todos estarem ali, que é encontrar um caminho que recupere a saúde do Inter.
O vídeo dos dois candidatos a presidente na última eleição batendo boca na reunião do Conselho, diante de uma plateia que urrava, é mais do que constrangedor. É assustador.
Será esse mesmo Conselho, dividido e com ânimos acirrados, que debaterá o Inter do amanhã, com SAF ou outro modelo de gestão? Não creio. Nesse clima de tensão, essa é uma discussão que não terá fim. Enquanto isso, o clube seguirá doente.