Não haverá título maior para o Inter e para Abel Braga do que o Mundial conquistado em 2006. Isto jamais poderá ser posto em discussão. Aquela passagem do treinador pelo Beira-Rio levou o clube ao seu melhor momento na história, e isto é indiscutível.
Ele já havia tido pelo menos um trabalho de alto nível em 1988 e 1989, quando organizou um time em meio ao Brasileirão e o levou a um vice-campeonato, passando pelo Gre-Nal do Século, e uma fase semifinal de Libertadores. Ali, faltaram os títulos.
O que se vê agora, porém, é algo surpreendente e cujo resultado tem tudo para entrar na mesma história em que Abel figura como campeão do mundo e aparecerá como quem mais dirigiu o Inter em todos os tempos. Basta confirmar o favoritismo adquirido no Brasileirão depois da vitória no Gre-Nal do último domingo (24) e da abertura de uma vantagem considerável sobre os perseguidores para consagrar um trabalho riquíssimo e no qual o comandante é mais protagonista do que em outras vezes. Nem em 2006 o Inter deveu tanto ao treinador quanto agora.
O Abel Braga de 2020/2021 chegou ao clube contratado por meses para manter uma boa posição no Brasileirão com um time líder, mas que apresentava decréscimo de desempenho nas mãos de Eduardo Coudet. Imediatamente, apresentavam-se decisões na Copa do Brasil e na Libertadores.
Houve queda de produção, eliminações nestas disputas e marcha ré no campeonato nacional. O Inter piorou em suas mãos, mas isto durou apenas semanas. Com o tempo, ele dominou o ambiente, mudou completamente a concepção de time, lançou garotos, reabilitou experientes e passou a usar seu esquema tático.
Se em 2006, para ser campeão da América e do mundo, Abel tinha uma estrutura sólida na diretoria comandada por Fernando Carvalho e um vestiário pesado com líderes como Fernandão, Clêmer e Iarley , em 2020 tudo foi diferente. O Inter não tinha vice-presidente de futebol quando o contratou, o presidente que o trouxe saiu do cargo em meio à campanha, bem como o diretor-executivo.
Além disso, a maior liderança entre os jogadores, D'Alessandro, foi outro a dar seu adeus na virada do ano. O zagueiro reabilitado pelo comandante rompeu os ligamentos, e o goleador do Brasileirão também sofreu uma lesão importante.
Neste cenário, novos dirigentes se apresentaram em meio ao trabalho de Abel Braga com o técnico sabendo que não será mantido após o Brasileirão. Misturando todos estes fatos, o ano de 2021 começa com o time se encontrando, chegando a uma série de oito vitórias seguidas, derrubando um tabu de mais de dois anos sem vencer clássico e retomando com sobras a liderança do campeonato nacional.
O triunfo com caráter épico no Gre-Nal é o emblema de um time que se consolidou enquanto o clube se transformava e que deve esta consolidação ao seu treinador. Nunca Abelão foi tão exigido e correspondeu tanto individualmente. Falta só a taça do Brasileirão para ratificar sua passagem mais notável no comando colorado. Por certo, ela estará na mesma prateleira das importantíssimas e inigualáveis conquistadas em 2006.