É difícil escolher um lance mais decisivo no jogo entre Náutico e Grêmio que entrou para a história como a "Batalha dos Aflitos" há exatos 15 anos. Ao se falar daquela epopeia gremista, logo vem à mente a defesa de Galatto no pênalti cobrado por Ademar e que garantiu naquele momento o empate de um time com sete jogadores contra o dono da casa que tinha 11. Também é possível eleger o gol de Anderson, minutos depois, quando ficou sacramentado que não haveria derrota tricolor, embora a grande inferioridade numérica do time. Há, porém, um instante definitivo e anterior à cobrança da penalidade que viabilizou toda a façanha.
Com pênalti marcado contra si e um festival de expulsões em meio ao tumulto generalizado, o Grêmio entrou em pânico. Houve invasão de campo por parte de dirigentes e convidados da delegação. Na gritaria tricolor começaram a se ouvir palavras fortes no sentido de retirar o time do campo. Em meio a figuras influentes como o diretor Paulo Pelaipe ou o ex-presidente Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, a ideia ganhou coro que já estava sendo compartilhado pelos jogadores ensandecidos.
Em meio a todo o distúrbio no qual a polícia já tomava parte com energia, o técnico do Grêmio, Mano Menezes, vagarosamente caminhou de seu reservado até o meio do campo, quando avistou o vice-presidente de futebol Renato Moreira, uma exceção em termos de controle emocional no meio da confusão. Moreira deixou o tumulto e se aproximou do treinador que já tinha ouvido as palavras de ordem pela retirada de campo da equipe. Mano, com voz calma alertou:
— Doutor, se tirarmos o time de campo, aí não tem mais volta. Perdemos o jogo, a classificação e ainda seremos punidos. Será uma desmoralização.
Renato Moreira, com experiência larga no departamento jurídico, ouviu e concordou, esclarecendo que estava tentando explicar isto aos mais exaltados. A conversa não durou mais de dois minutos, e nela o técnico citou que havia jogo por jogar e a possibilidade dos pernambucanos perderem o pênalti. Isto reforçou a convicção do dirigente que retornou para onde seguia a forte discussão já com o intuito de refrear os ânimos e viabilizar o retorno da partida.
Coube a Mano Menezes reunir seus nervosos jogadores, explicar que ninguém mais poderia ser expulso e que era preciso lutar por algo ainda possível de ser conquistado. Galatto defendeu o pênalti, Anderson marcou seu gol, o Grêmio venceu, foi campeão da Série B e voltou à primeira divisão. Louve-se os lances de campo, mas não se esqueçam que eles só aconteceram porque duas vozes sensatas evitaram a saída de campo da equipe naquele 26 de novembro de 2005.