Gloria Maria não gostava de dizer a idade. Logo depois que morreu, dia 2 de fevereiro, as redes sociais turbinaram a polêmica: foram centenas, talvez milhares de posts discutindo se o ano em que ela nasceu deveria ter sido publicado nos obituários. Por um lado, é justificável que a sua vontade fosse respeitada. Por outro, Gloria Maria era, por opção própria, uma pessoa pública. E isso traz bônus e ônus – um deles é a legítima curiosidade, às vezes invasiva, da plateia. Não há verdade ou razão absoluta, apenas jeitos diferentes de ver as coisas.
Não muito tempo atrás, ser gay, ou integrante de outras minorias, era bem mais difícil no Brasil. Sei que ainda falta muito. Não estou afirmando que está tudo bem, mas que, em alguns setores da sociedade, melhorou. Não foi um presente que caiu do céu, mas o resultado de lutas corajosas e difíceis.
Quando, por exemplo, um governador assume ser gay, ainda paga um preço por isso. Mas deixa um legado extremamente valioso. Provavelmente, o segundo governador gay será bem menos notícia. Na terceira vez, será tão normal que passará despercebido.
Ninguém é obrigado a revelar publicamente que é gay, nem que tem mais ou menos de 60 anos. Mas só conseguiremos erradicar o preconceito contra a idade no dia em que ela for encarada de outra forma. Sei que são contextos diferentes. A passagem do tempo nos leva em direção a algo assustador e inexorável, que é a finitude. “Nossa! Você parece mais jovem, não aparenta a idade que tem.” Dizemos e ouvimos essa frase naturalmente, como se fosse um elogio. Talvez não seja. Talvez seja apenas o reforço de um dos preconceitos mais arraigados em nós: “É bonito ser jovem. É feio ser velho”. Nem uma coisa, nem outra. É apenas normal e natural, como qualquer outra fase da vida.
De fato, o Rio Grande do Sul e o Brasil estão envelhecendo. As famílias têm menos filhos e os avanços da medicina vêm garantindo cada vez mais anos de vida, com qualidade. Os 60+ já são um mercado gigantesco, com poder econômico e político crescente. Mas não sabem disso. Nem eles, nem boa parte das empresas e dos governos. Filas preferenciais e vagas reservadas nos estacionamentos não podem ser confundidas com coitadismo ou pena. São apenas parte do respeito a processos absolutamente naturais do ciclo de vida humano. Não é favor. É dever. E ainda é pouco.