A polêmica envolvendo o fim da checagem de notícias pelo Facebook e pelo Instagram é, na verdade, uma oportunidade. Não para brigar sobre conceitos, mas para tentar entender o que eles realmente significam. A liberdade de expressão é sagrada. Sobre isso, a maioria das sociedades ocidentais concorda. A grande questão é: o que, de fato, significa essa liberdade? E é aí que as divergências aparecem — algumas culturais, outras movidas por interesses nem sempre tão claros.
Nos Estados Unidos, por exemplo, você pode defender praticamente qualquer coisa. Pode, inclusive, defender ideias nazistas. Mas, se tentar colá-las em prática, vai enfrentar problemas com a Justiça. Já no Brasil, somos mais cuidadosos. Talvez por sermos mais emocionais. Aqui, o foco está muito mais em quem pode se sentir agredido por uma ideia do que no suposto direito absoluto de expressá-la. Gosto mais do nosso sistema. Liberdade tem que ser para todos, na mesma medida.
Uma mensagem só existe porque tem um emissor e um receptor. E isso é ainda mais importante quando falamos de discursos que usam as boas intenções da democracia para atacá-la. Precisamos de regras e de mediação. Aquela ideia de uma praça pública aberta, onde todo mundo pode falar o que quiser e os próprios frequentadores se regulam, fracassou. Quando não há regras, quem grita mais alto — ou bate mais forte — acaba mandando. E os moderados, os que falam baixo e os que querem apenas conversar, acabam indo embora. A praça, que deveria ser de todos, vira terra de ninguém.
Nossa pergunta eterna é sempre a mesma: quem decide o que pode ou não pode? Em tempos de polarização, o centro virou extrema esquerda para quem está à direita e extrema direita para quem está à esquerda. E assim, vamos nos fechando em bolhas e guetos. Cercados por quem pensa como a gente, age como a gente e torce pelo mesmo time. Esquecemos como é conviver com o diferente. E, assim, tudo o que não está comigo, automaticamente, está contra mim.