Ao falar sobre a reforma tributária, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disparou: “a ideia é copiar o que deu certo no mundo”. Tomara que os seus 36 colegas de ministério e o presidente escutem. E repitam o mesmo mantra. O benchmarking, processo de estudo e adoção das melhores práticas em um mercado, poderia começar por aqui: se o governo Lula olhasse para o que deu certo no mundo, jamais teria 37 ministérios. Os Estados Unidos, por exemplo, têm 15. A Alemanha, 16.
Se eu ainda fosse repórter e tivesse a missão de entrevistar o presidente, faria uma proposta: “O senhor ganha um doce se disser, de cor, os nomes e as pastas de todos os seus ministros”. Imagine uma empresa com 37 vice-presidências. O mês termina antes que o CEO converse individualmente com todos os seus principais executivos, se fizer um encontro por dia, inclusive aos sábados e domingos. Imagine uma reunião da diretoria- executiva. Se cada um falasse 10 minutos, seriam consumidas mais de seis horas. Sem diálogos ou debates.
De fato, a ideia inspiradora de Haddad, se implementada no governo todo, causaria um tsunami. Milhares de cargos de confiança seriam cortados, as nomeações seriam mais técnicas e menos políticas. Na educação, teríamos uma revolução de conteúdos e de pedagogia. Estatais gigantescas seriam fechadas ou vendidas para quem sabe cuidar melhor delas, o que não foi feito nem pelo governo anterior, eleito com votos liberais. Se, na reforma tributária, Haddad realmente copiar o que deu certo no mundo, já será um grande passo. Parece-me pouco provável, dada a histórica e insaciável voracidade das gestões públicas por recursos – e a necessidade de tapar rombos e alimentar uma estrutura pouco eficaz. Haddad talvez não tenha se dado conta, mas, se o governo federal realmente copiar o que deu certo no mundo, ele acaba. Enfrentaria a fúria dos poderes e perderia a sustentação no Congresso, acostumado a cargos e espaços de poder e influência inadmissíveis nos lugares que realmente deram certo. Existe ainda a hipótese de Haddad olhar para o mapa-múndi e confundir, sob o viés da ideologia, o que deu certo com o que deu errado. Não seria a primeira vez que isso aconteceria com um governo. E nem a última.
Sinceramente, não acredito. O ministro da Fazenda tem dado sinais de que não é um radical. A maior prova é a frase que, para boa parte de seus companheiros, seria um tiro no pé.