A inovação é um processo, não um ponto final. Na Copa do Mundo, até agora, há pouquíssimos erros graves de arbitragem, o que é bom para todos. Três fatores são decisivos para que os jogos fluam mais e melhor. O primeiro, é que lá estão os melhores profissionais do apito do planeta. Depois, aplausos para a postura dos atletas, mais disciplinados sob os holofotes de uma plateia de bilhões de pessoas. A grande novidade, porém, se chama VAR. Não a ferramenta em si, já presente em copas anteriores, mas sim seu aperfeiçoamento. As pessoas e a tecnologia evoluíram juntas nos últimos anos. No Catar, as decisões são rápidas, ancoradas por imagens 3D, que permitem a compreensão quase instantânea do que realmente aconteceu no campo.
Ainda pode haver erros, é claro. Mas, precisamos admitir, a margem para enganos e má-fé ficou muito, muito menor.
Ibsen Pinheiro, apaixonado por futebol, me disse uma vez, daquele seu jeito suave e ao mesmo tempo contundente, quando lamentávamos uma derrota do Inter, creditada por nós, é claro, a um erro inaceitável do juiz: “É muito poder nas mãos de um só homem”. Ibsen tinha razão. O VAR chegou para compartilhar as decisões capitais, que definem um jogo e um campeonato.
No começo, a gritaria foi imensa. Eu, por exemplo, achei que nunca mais amaria futebol, porque parei de gritar gol com medo de que fosse anulado depois da revisão. Fui adaptando o meu jeito de torcer. Hoje, o VAR é mais um componente de emoção. Vendo a Copa, fico pensando na nossa natural resistência às mudanças. Gostávamos do futebol do jeito que ele era, com cotoveladas que o juiz não via, com impedimentos vergonhosos não marcados, com gols que decidiram campeonatos a partir de faltas batidas com bola rolando, com la mano de Dios virando símbolo de uma malandragem que serve para alimentar o folclore do esporte, mas que, de fato, presta um desserviço a valores muito mais importantes.
A evolução do VAR é um case de como a inovação nasce e dá certo, porque atende a uma necessidade e agrega valor a algo relevante. E tudo isso, por mais estranho que pareça, só aconteceu porque as pessoas reclamaram. E muito. Reclamaram dos erros antes do VAR e da demora e da imprecisão logo que ele foi implementado. Talvez, no futuro, algum novo argumento ou tecnologia decrete o fim dessa experiência. Mesmo assim, terá sido útil. O erro é o caminho mais seguro, barato e rápido para o acerto. Aliás, talvez seja o único caminho.