É, no mínimo, intrigante. Até onde minha memória alcança, sempre foi assim: o resultado das eleições presidenciais são anunciados e o vencedor começa a festa. Vibra, como se houvesse ganho uma Copa do Mundo. Sobe em um carro de som e, com as veias da garganta saltadas, faz um discurso recheado de euforia, promessas e palavras de ordem. A festa não é só do vencedor, mas de seus familiares, amigos, assessores e eleitores, milhares deles. A multidão delira e grita: “Mito, Mito, Mito!” ou “Lula, Lula Lula”. Ou “Dilma guerreira, do povo brasileiro”. Ou qualquer outra coisa que, no fundo, é a mesma coisa. Então, essas milhares de pessoas voltam para casa e vão dormir com a certeza de que agora vai, enquanto outra parcela do país, a derrotada, igualmente adormece, mas convicta de que “agora não vai”. Tudo pura emoção.
A alegria é sagrada. Precisamos dela, mais e mais, como remédio ao azedume e ao pessimismo. Mas fico imaginando, cada vez que vejo a gigantesca celebração que sucede o encerramento da contagem dos votos: se eu ganhasse uma eleição presidencial, estaria apavorado, tenso e preocupado. Talvez, por isso, eu jamais vença uma, ou sequer pense em me candidatar. A responsabilidade que vem com uma missão dessas é avassaladora. Cuidar de um orçamento gigantesco, que deve atender a uma população gigantesca, em um país gigantesco, com desafios gigantescos. Rir de quê? Até consigo supor: dos cargos a distribuir, da vida palaciana, do avião privativo, das viagens, das mordomias, da fama e do poder. Se não fosse por isso, em vez de festa, estariam reclusos e sóbrios, trabalhando na solução dos problemas e na entrega das promessas que, no fundo, sabem que não cumprirão. Sempre há um culpado externo: a China que cresce pouco, uma crise nos Estados Unidos, uma guerra em algum ponto do planeta, uma conspiração golpista, os especuladores do mercado etc. etc. etc..
Longe de mim demonizar a política. Sem ela, não há solução. Mas, de fato é estranho que um adulto, no exercício de suas faculdades emocionais minimamente equilibradas, fique eufórico ao vencer uma eleição presidencial. A militância, eu até compreendo. É tipo torcida de futebol. Um bom técnico, porém, precisa de sobriedade, trabalho e humildade para armar o time e a estratégia. Sem isso, jamais saberá porque ganhou ou porque perdeu. Quando a eleição acaba, não acaba o campeonato. De fato, está apenas começando.