Já um clássico aqui em casa. A Maya senta no meu pé e começa a se sacudir. Quando isso acontece, me cabe erguer a perna e balançá-la, como se estivesse chutando uma bola para cima, devagar e várias vezes. Ao mesmo tempo, com entusiasmo total, vou marcando o ritmo da brincadeira em voz alta: “pocotó, pocotó, pocotó, potocó”. Maya vai ao delírio montada em seu cavalo imaginário. Então ela desce de um pé e se acomoda no outro, o que transforma a brincadeira em excelente exercício físico. A Maya, com treze meses e nove quilos, vive o seu momento “Freio de Ouro”, enquanto eu trabalho meus quadríceps.
Uma das primeiras providências que adoto ao chegar em casa é tirar os sapatos e calçar meus crocs. Quando eu ainda participava do Pretinho Básico, o Fetter fazia bullying comigo. Não pelo hábito, mas pelas sandálias, consideradas “cringe” pela galerinha. A Andressa Xavier, na Rádio Gaúcha, também pegava no meu pé. Tadinhos. Sabem nada. Esse pisante é soberano, por exemplo, entre os corredores de longa distância. Quando descansam, é claro. Profissionais de saúde também gostam, entre tanta gente elegante e sincera que faz parte do nosso time. Eu adoro. São macios, fáceis de limpar e confortáveis. Não estou recebendo nada para escrever isso. Eu curto, mesmo. Por isso, uso muito, até na rua. Aliás, tenho o hábito de repetir as mesmas roupas. Meu armário abriga umas sete camisetas de golfe. Cinco devem estar mofadas. Uma vai pra lavar, visto a outra. Tem a ver com conforto e segurança, não com estética. É desse ponto que a história continua.
Outro dia, estava eu no sofá de pés descalços. Os crocs, meus velhos e bons companheiros, descansavam sobre o tapete da sala. Veio a Maya correndo. Olhou para os meus pés e fez uma carinha de espanto. Ela os vê pouco. Era frio até dias atrás e, mesmo quando faz calor, estou quase sempre com as sandálias pretas. Foi para elas que a Maya dirigiu o olhar. Não teve dúvidas. Acostumada que está, sentou no crocs e começou a pedir “pocotó”. Jaque e eu caímos na gargalhada diante da pitoca se sacolejando no tapete, enquanto meu pé verdadeiro estava ali, a poucos centímetros de distância. Foi então que concluí: está na hora de variar, sob pena de a Maya crescer pensando que o pé do papai é uma sandália. Novembro avança rapidamente. Atenção, família. Já sei o que vou pedir de Natal: crocs novos. Da cor mais parecida com preto que houver. O que um pai não faz por uma filha!