Interessante essa ideia de criminalizar os erros dos institutos de pesquisa. Imagina se for aplicada a outras áreas da vida nacional. Um candidato promete uma coisa na campanha e, depois da posse, faz outra? Multa nele.
Acredito que a maioria dos erros dos institutos sérios são mesmo erros. Passam mais pela incompetência do que pela má- fé, o que não se pode dizer do genocídio de promessas de políticos, perpetrado corriqueiramente no Brasil.
Longe de mim defender cegamente os institutos. Eles têm a obrigação de acertar. E erram, de forma grotesca. Tenho lido, porém, algumas explicações instigantes. Em função do atraso no censo, faltam dados recentes para construir amostras mais corretas. Um exemplo: nos últimos anos, o Brasil envelheceu. Esse eleitorado tende a ser mais conservador. Ao mesmo tempo, a forma de organização da sociedade mudou. Não obedece mais aos padrões tradicionais de faixa etária, renda, gênero e localização geográfica.
Depois de quase 30 anos acompanhando política, me permito considerar que até mesmo as pesquisas internas dos candidatos erraram. As estratégias, na reta final do primeiro turno, coincidiam com a lógica dos percentuais divulgados pelos grandes institutos.
E tem também, é claro, o fator humano. Ouvi outro dia uma anedota. O dono de um instituto afirma: fiz uma pesquisa infalível, com uma amostra perfeita e descobri que minha mãe é a favorita para vencer as eleições. “Como assim?”, alguém perguntou. O dono do instituto explicou. “Eu mesmo liguei para as casas das pessoas, às três da madrugada, e perguntei: quem o senhor acha que vai ganhar as eleições? Sessenta e quatro vírgula três por cento dos entrevistados responderam, com voz de sono e muita raiva: “A tua mãe, desgraçado”.
Para os que, assim como eu, defendem a liberdade individual e, ao mesmo tempo, compreendem que ela depende de uma dimensão coletiva, segue valendo uma antiga convicção: ninguém é obrigado a ler pesquisas, a acreditar nelas ou a deixar que elas exerçam qualquer tipo de influência no voto.
Chego a pensar que, no longo prazo, os vexames das pesquisas prestam um serviço à democracia, justamente pela definição do real valor real que devem ter. De tanto errarem, se tornarão menos relevantes. A não ser que prometam se reinventar. E cumpram a promessa.