O resultado da eleição presidencial é a segunda variável mais importante na definição dos rumos do Brasil dos próximos anos. A primeira é o que acontecerá imediatamente depois do anúncio do vencedor, ainda no domingo à noite. Seja quem for, teremos um país cindido. Em uma democracia, prevalece a vontade da maioria, mesmo que escassa. A mágoa pela derrota é natural, mas deve se dissipar de maneira civilizada. O primeiro exemplo caberia aos candidatos. Quem perde admite a derrota e cumprimenta o vencedor. Não vejo civilidade possível, diante das baixarias fartamente apresentadas ao povo durante a campanha. O povo, esse do qual todos prometem cuidar. Acontece que esse caldo fervente de hostilidades, engrossado pela normalização da violência política, nunca esteve, nas últimas décadas, tão perto de transbordar. “Mentiroso” figura entre os adjetivos mais suaves proferidos pelos dois candidatos que estimulam o ódio e a paixão dos brasileiros. A irracionalidade é uma ferramenta fácil quando o assunto é projeto de poder, e não de país.
Domingo à noite será a hora de decidir para onde vamos. Será o momento de separar, de forma clara, o direito à frustração do instinto selvagem de destruição.
Não sei quem vai ganhar e, para que esse texto se justifique, tanto faz . Aos derrotados caberá provar que a defesa do Estado democrático de direito, cantada em prosa e verso durante a propaganda eleitoral, era para valer. Aos vencedores, compete o dever de lutar contra qualquer impulso de revanchismo ou ameaça, em qualquer tempo. Às instituições, cumpre o papel de preservar a Constituição e a solidez dos valores que a regem. A História não terminará quando o voto decisivo for anunciado para Lula ou Bolsonaro. Todos temos amigos, familiares, vizinhos e colegas que torcem para o outro lado. Ou que torcem para ninguém. Continuaremos a nos encontrar no elevador, na praça, no clube, na rua, na escola dos filhos.
No instante em que o resultado da eleição for conhecido, a atitude de cada um irá indicar como será o Brasil daqui para frente.
Não é na eleição. A encruzilhada decisiva do nosso futuro nos aguarda no domingo, depois do pôr do sol, quando o voto que falta for computado pelos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral. Onde você estará? Como reagirá se perder? E se ganhar? O que postará? O que dirá? Bolsonaro ou Lula não lhe darão as respostas. É você. É cada um de nós, diante do espelho e da História.