Enquanto a Humanidade não atinge patamares superiores de evolução, as Forças Armadas continuarão imprescindíveis. Um dia, quem sabe, viveremos em paz. Então, nossos instintos mais selvagens estarão definitivamente canalizados para um oceano de luz e de fraternidade. Quando isso acontecer, transformaremos tanques em viveiros de plantas. Talvez demore.
O general Hamilton Mourão era comandante do Comando Militar do Sul quando concedeu uma entrevista ao programa Mãos & Mentes, da TVCOM, apresentado por mim. Lá se vai quase uma década. Quando conversávamos sobre 1964, perguntei: “General, o senhor acredita que os militares um dia voltarão ao poder no Brasil?”. “Se forem eleitos, sim”, respondeu de bate-pronto, com a mesma convicção do famoso “bom dia!” viralizado na internet.
Certamente, Mourão não imaginava que, tempos depois, seria eleito vice-presidente da República e, na sequência, senador pelo Rio Grande do Sul.
Hoje, ele está na reserva. Não tem mais qualquer participação na estrutura formal do Exército. Mas a resposta à minha pergunta seria a mesma, tudo leva a crer, se feita, em 2022, a integrantes da cúpula das Forças Armadas brasileiras. Desde a redemocratização, Exército, Marinha e Aeronáutica têm sido absolutamente fieis ao seu papel constitucional. Além do mais, os aprendizados dos anos em que governaram o país se traduzem na convicção majoritária de que houve mais desgastes do que ganhos no processo, da maneira como acabou se desenhando.
O Brasil pós-eleição registra alguns fatos curiosos. Pessoas em frente a quartéis pedindo intervenção militar é um deles. Não me impressiono. Nem me assusto. Entendo que, além de descabidas, manifestações desse tipo são inócuas. Não há qualquer sinal de que sejam levadas a sério pelas Forças Armadas. Para que os tanques voltem às ruas, é preciso um motivo previsto na Constituição. Não há qualquer sinal disso no horizonte da pátria. Uma coisa é a existência de posições diferentes, outra é a coesão naquilo que é essencial. Essa se mantém. A História nos mostra que quartéis não são lugares adequados para debater e exercer política partidária. Por isso, clamar por intervenção militar no Brasil de hoje me soa como pedir que discos voadores aterrissem na orla do Guaíba. Ou que leões deixem de rugir e passem a coaxar. Ou que se repitam erros do passado em nome de um futuro equivocado.