Apoiar e defender um governo não é crime. Ao contrário. Mas quando isso se transforma em burrice, aí temos um problema. O fenômeno não é novo. Acontecia nos tempos de Lula e também muito antes disso. A lógica do futebol aplicada à política é um baita gol contra.
A preguiça intelectual pegou muita gente boa em cheio. De artistas a empresários, milhões de brasileiros se colaram rótulos e pararam de pensar. Sou esquerda. Sou direita. Dane-se o bom senso e a razão. O Brasil não só merece, mas precisa, urgentemente, de bem mais do que isso.
Como é possível que alguém bem informado e inteligente não questione a investida do presidente contra a Justiça Eleitoral, um dos mais importantes pilares da democracia? Só existe uma maneira correta de acusar o sistema. Mostrar, imediatamente, as provas. É claro que sindicalistas militantes e direitistas de Facebook até podem jogar palavras ao vento. Não deveriam, mas fazem. O efeito é insignificante. Mas o presidente da República? Quando um chefe de governo fala, o país deveria parar para ouvir. As sucessivas ondas de acusações, bravatas e desinformações pronunciadas por Jair Bolsonaro fazem mal ao Brasil e vão retirando, sucessivamente, relevância do próprio presidente. A tal ponto que, mesmo dentro do governo, há quem tenha adotado como lema “deixa ele falar que a gente vai tocando o país”.
Ataques ao Congresso, ao Judiciário e a um dos seus braços mais importantes, que legitima resultados eleitorais: se fosse Nicolás Maduro, na Venezuela, Jair Bolsonaro estaria chocado. E vociferando, com razão.
Como cidadão brasileiro, que também reconhece acertos nesse governo, tenho uma certeza: desacreditar a democracia é um caminho perigoso. Criticá-la e corrigi-la é um caminho necessário. Tomara que Jair Bolsonaro não tenha entendido a diferença. Porque, se entendeu, nosso problema é bem maior.