Depois de 40 anos, o Rio Grande do Sul voltará a ter um(a) vice-presidente da República nascido(a) aqui. O resultado das urnas, que levou Jair Bolsonaro e Fernando Haddad para o segundo turno, indicou que Hamilton Mourão ou Manuela D´Ávila será o próximo(a) inquilino (a) do Palácio do Jaburu.
Eles chegaram na política por caminhos diferentes. Mourão, natural Porto Alegre, trilhou uma carreira militar de sucesso. Foi à frente do Comando Militar do Sul que ganhou voz na política nacional. Em 2015, durante uma palestra no CPOR, em Porto Alegre, fez uma análise de cenários que incluíam a queda da presidente Dilma. A repercussão nacional gerou desconforto em Brasília, que culminou com o afastamento de Mourão algum tempo depois, mas lhe rendeu aplausos dentro e fora das Forças Armadas.
Como vice de Bolsonaro, ajudou a estreitar ainda mais as relações entre o candidato e o oficialato, até então resistente a apoiar um ex-capitão com uma carreira marcada por polêmicas. Mourão vem sendo o articulador da candidatura junto a segmentos empresariais e políticos.
Manuela D´Ávila também nasceu na Capital. Militou no movimento estudantil e sempre teve a política correndo nas suas veias. Eleita deputada federal em 2007, voltou para o Rio Grande do Sul em 2014, motivada pelo desejo de ser mãe. Pensou em deixar a política em segundo plano, mas a acabou aceitando o desafio de concorrer à Presidência pelo PCdoB.
Durante o julgamento de Lula, se aproximou ainda mais do ex-presidente. Quando a candidatura dele ficou inviabilizada e Fernando Haddad foi indicado para concorrer, surgiu naturalmente como candidata a vice.
De acordo com a Constituição, o vice tem a única função de estar preparado para substituir o presidente em caso de necessidade. A História recente do Brasil prova que as chances de isso acontecer são grandes (confira abaixo). Apesar de não ter atribuições específicas no governo, o vice serve como um canal e uma referência para pleitos gaúchos.
Um "comunista" e um general: Brasil já teve dois vice-presidentes gaúchos
De espectros políticos opostos, dois gaúchos já ocuparam o cargo de vice-presidente do Brasil. Um convivia com a alcunha de "comunista", o outro era um general.
João Goulart, de São Borja, foi duas vezes vice-presidente. A primeira vez, no governo de Juscelino Kubitschek. A segunda, com Jânio Quadros. Em 1961, quando Jânio renunciou ao posto, assumiu a presidência do país. Vítima da intensa polarização entre direita e esquerda, Jango era acusado pelos opositores de ter ligações com políticos comunistas na Rússia e na China. Apesar das críticas, o gaúcho nunca foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro, que chegou a fazer parte da oposição ao seu governo.
Já o general Adalberto Pereira dos Santos, o segundo gaúcho a assumir o posto, foi vice de Ernesto Geisel. Nascido em Taquara, teve uma participação discreta no governo entre 1974 e 1979. De poucas palavras e avesso à vida política, o militar assumiu a presidência da República apenas três vezes durante o mandato: nas viagens de Geisel à França, à Inglaterra e ao Japão, em 1976. Viúvo e sem filhos, após a passagem por Brasília, o general deixou a vida pública. Na última entrevista que concedeu, em 1984, Adalberto falou sobre sua paixão pelo Internacional e pelo Flamengo, sua vida de aposentado, resumindo: "Não tenho nostalgia do poder".
Oito vices já assumiram a presidência no Brasil
Sem atribuições específicas, o vice no Brasil não costuma ser uma figura decorativa. Seja por renúncia, impeachment e até morte dos titulares, ao longo da história da República brasileira, oito presidentes foram substituídos por seus respectivos vices.
Floriano Peixoto
(Quando assumiu: 1891)
O primeiro vice-presidente a ascender ao poder foi justamente o primeiro a ser eleito, pouco tempo depois da Proclamação da República, em 1889. O titular, Deodoro da Fonseca, renunciou ao cargo após fracassar numa tentativa de golpe de Estado.
Nilo Peçanha
(Quando assumiu: 1909)
O político assumiu após o presidente eleito, Afonso Pena, morrer vítima de uma pneumonia.
Delfim Moreira
(Quando assumiu: 1918)
Assumiu o posto interinamente já na posse. O titular, Rodrigues Alves, estava acamado com tuberculose. Com a morte do presidente, dois meses depois, convocou novas eleições para o mesmo ano.
Café Filho
(Quando assumiu: 1954)
O potiguar se tornou presidente da República após suicídio de Getúlio Vargas.
João Goulart
(Quando assumiu: 1961)
Jango tomou posse como presidente após a renúncia do titular Jânio Quadros. Ficou no cargo três anos, até ser deposto por um golpe militar.
José Sarney
(Quando assumiu: 1985)
Primeiro vice-presidente eleito após os governos militares. Assumiu quando o titular Tancredo Neves faleceu, vítima de infecção generalizada.
Itamar Franco
(Quando assumiu: 1992)
Foi o primeiro vice-presidente a ser eleito diretamente pelo voto popular após a Constituição de 1988. Assumiu após o titular, Fernando Collor, sofrer um impeachment.
Michel Temer
(Quando assumiu: 2016)
Tomou posse após o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Regra permite que vice assuma presidência em exercício diversas vezes por ano
No Brasil, quando o titular viaja ao Exterior, o vice-presidente assume o cargo. Senta na cadeira presidencial, assina decretos e sanciona leis, como se presidente efetivo fosse. Graças à regra, na história recente do país, dois vices ficaram mais de um ano no poder. Marco Maciel, vice de Fernando Henrique Cardoso governou o país por 416 dias devido às frequentes viagens do titular. Em média, um dia a cada semana que o titular esteve na Presidência.
José de Alencar, vice de Lula, entre 2003 e 2010, também ficou mais de um ano no poder. Ao longo dos oito anos do governo petista, foram 400 dias como presidente em exercício. Nos cinco anos em que ocupou o posto de vice-presidente da República, entre 2011 e 2016, Michel Temer assumiu a presidência com bem menos frequência. Ao todo, foram 92 dias.
Não foi, no entanto, a primeira vez que Temer ocupou o cargo de presidente da República. Em janeiro de 1998, como presidente da Câmara dos Deputados – o terceiro na linha sucessória do país – assumiu interinamente o Palácio do Planalto por cinco dias. Tanto o ex-presidente FHC quanto o vice Marco Maciel estavam em viagem internacional.
Dias com caneta na mão:
Marco Maciel - 416 dias
José Alencar - 400 dias
Temer - 96 dias*
*Até o afastamento de Dilma da Presidência, em maio de 2016.