Professores, intelectuais, empreendedores e médicos gaúchos lançaram o manifesto " Que Vença o Terceiro", propondo uma reflexão sobre a polarização da campanha. Eles fazem parte do G10, que se autodenomina "um grupo permanente de livre pensar".
Um trecho do documento: " Democracia é disputa sadia, não a miséria moral e material que se atira contra nós pelos que navegam as águas turvas da corrupção ou da intolerância. Nós a vemos como a celebração dos mais preparados a serviço de toda a nação. Jamais de uma tribo contra a outra."
Leia o texto na íntegra:
"Que vença o terceiro.
Essa eleição tem sido palco de um medo sem precedentes, embora justificado. No lugar de propostas para nos tirar do atoleiro, e onde esperamos decência e racionalidade, os líderes nas pesquisas produzem, em escala industrial, hostilidades, memes, e fake news que só expandem o deserto intelectual e fomentam a histeria coletiva.
Para os mercenários do caos em que fomos metidos, esse é o teor da democracia. Para nós, isso é uma disfuncionalidade, é o circo com os ilusionistas, os que desconhecem os escrúpulos na disputa e depois dela. O risco representado pelos dois primeiros colocados nas pesquisas não compromete apenas o destino da geração atual. É possível que aborte qualquer aspiração do nosso país na direção da prosperidade.
Democracia é disputa sadia, não a miséria moral e material que se atira contra nós pelos que navegam as águas turvas da corrupção ou da intolerância. Nós a vemos como a celebração dos mais preparados a serviço de toda a nação. Jamais de uma tribo contra a outra, ou uma disputa onde o “vencedor” torna todos os demais perdedores e governa por afinidade sectária e interesses obscuros. Democracia não é um contra o outro, é por todos.
É difícil, requer desprendimento, integridade incondicional, mas assim é a democracia republicana, por mais esquecida e desprestigiada que esteja no insano fratricídio político fabricado pelos extremos diante da verdadeira maioria que somos todos nós que não comungamos com essa violência.
Olhando para a polarização atual, vemos a democracia espremida entre duas forças que, se vencerem as eleições, terão a infausta propriedade de colocar contra si, no dia seguinte ao pleito, mais de 50% da população que não apenas não confia, mas rejeita o eventual vencedor.
Tem algo muito errado nessa situação a que chegamos sob desconfiança e ansiedade generalizadas. Tamanha é a loucura que até mesmo quem absorveu a ideia de votar por um dos dois polos, está desconfortável e assustado com o risco de sua decisão pessoal. Ao mirar no tigre que fugiu da jaula, os mais sensatos sabem que correm alto risco de acertar a platéia.
Por isso, nós do G10, decidimos assinar essa carta, como um gesto coletivo que busca afastar os risco dos extremos, mesmo que a gente tenha que colocar de lado nossas preferências pessoais: vamos votar no candidato que surgir em terceiro lugar nas pesquisas na sexta-feira.
Entre nós temos eleitores de Amoedo, Ciro, Marina, Meirelles e Alckmin, e achamos que em condições normais, pela democracia, deveríamos seguir com nossas preferências. Porém, com o quadro manipulado e induzido para a polarização com viés radical e doentio como o que temos, a hora é de evitar o mal maior e passar algum sinal de lucidez de uma sociedade que aspira mais do que a escuridão como destino.
Que vença o terceiro!"
Pelo G10, um grupo permanente de livre pensar, assinam:
Christian Kieling, médico psiquiatra e professor universitário
Fernando Mattos, engenheiro ex-presidente do MBC
Guido Lenz, pesquisador e professor da UFRGS
Jose Cesar Martins, sociólogo e empreendedor
Leticia Batistela, advogada
Nelson Boeira, professor da UFRGS aposentado
Paulo Knapp, médico psiquiatra
Rodrigo Leal, empreendedor