1. A eleição do silêncio
Os dois líderes nas pesquisas foram os que menos falaram no primeiro turno. Lula, representado por Fernando Haddad, está na cadeia. Por decisão da Justiça, não pode dar entrevistas. Jair Bolsonaro dispunha de nove segundos de tempo na tevê. Passou boa parte da campanha internado e calado, depois de levar uma facada.
2. A eleição sem partidos
Parece paradoxal que os candidatos com mais tempo de TV tenham, de acordo com as pesquisas, naufragado. Essa eleição consagrou o princípio da construção das marcas pessoais. Lula vem fazendo isso há décadas. O fenômeno Bolsonaro começou anos atrás, impulsionado também pelas redes sociais. Tudo acentuado pelo colapso dos partidos, que perderam a capacidade de representação. Não se pode menosprezar a força da tevê, apesar do surgimento de novos players. Mas é um erro pensar que ela resolve tudo sozinha.
3. A eleição da cadeia e da facada
Chega ao fim a primeira parte de uma das mais violentas campanhas eleitorais da História brasileira. Tanto, que seus eixos foram a carceragem da PF em Curitiba e o hospital Albert Einstein, em São Paulo.
4. A eleição dos evangélicos
Nunca a religião teve tanto peso numa campanha. Jair Bolsonaro amalgamou a preferência de milhões de evangélicos, em grande parte, por um tema pouco ressaltado, mas fundamental para eles. A defesa do Estado de Israel e o compromisso de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, promessas que animaram os evangélicos americanos, defensores de Donald Trump. Na comunidade judaica brasileira, há setores contrários e favoráveis a Bolsonaro. Mas a política externa teve, sim, impacto na disputa interna.
5. A eleição dos militares
Restritos às suas funções profissionais desde a redemocratização, os militares se apresentam agora para concorrer em todos os níveis. De presidente a deputado estadual, são candidaturas que se espalham pelo país. É natural que, em uma democracia, as Forças Armadas e todos os segmentos da sociedade tenham suas vozes nos governos e nos parlamentos. No caso brasileiro, chama a atenção o movimento simultâneo e intenso de apresentação de candidaturas, algumas com amplo amparo popular. No momento em que impera um clima de tensão no país, será um teste para uma instituição que conseguiu se manter, depois da redemocratização, fiel às suas funções constitucionais. Um grande teste em caso de vitória. Maior ainda, na hipótese de derrota nas urnas.
6. A eleição do refluxo
A falência das promessas da globalização e da liberalização dos costumes, propagadas, em grande parte, pela esquerda, empurraram os EUA e a Europa para o outro lado. Terrorismo, imigração e ameaça aos empregos estão no centro dessa virada, que tem agora reflexos também no Brasil. Tudo isso somado aos escândalos de corrupção envolvendo o PT e à falta de renovação da esquerda, que ainda fala pelas vozes de ex-rebeldes que viraram caciques. Nesse cenário, Lula sobrevive em setores do imaginário popular, apesar de preso, como uma figura acima do PT, da esquerda e da direita.