A eleição brasileira passa de forma incontestável por um personagem: Lula. Ou melhor, Lulas. São dois.
Um é o corrupto, presidiário, chefe da quadrilha que dilapidou o país, que quase quebrou a Petrobras, que recebeu propinas de empreiteiras – um triplex e um sítio -, que é o cabeça de uma conspiração comunista sedenta pela perpetuação no poder, cachaceiro, analfabeto e pilantra.
O outro Lula é o líder visionário e generoso que tirou milhões de brasileiros da miséria, promoveu a inclusão de minorias no mercado de trabalho, homem simples que veio da pobreza nordestina e chegou ao Planalto, presidente de um país que cresceu, que sonha um projeto de futuro justo, que abriu as universidades para o povo, que fala a língua dos mais pobres e que foi perseguido porque mexeu com os interesses dos poderosos.
É fantástico: quem ama o Lula só enxerga o Lula bom. Quem odeia o Lula, só enxerga o Lula mau. Uma estrutura cognitiva parecida com a de uma criança de cinco anos, que divide o mundo em heróis e vilões.
A História precisa de tempo para ser contada. A pressa nos leva ao maniqueísmo, mas, ao mesmo tempo, a disputa de narrativas é matéria prima para a análise histórica que virá depois. Séculos depois, muitas vezes. Eventos como a Revolução Francesa e a descoberta do Brasil ainda hoje recebem novas luzes e olhares.
Será preciso que o tempo passe e que a razão eclipse a paixão. Só então estaremos prontos para compreender as ambiguidades, as nuances, os méritos e os defeitos do personagem mais contraditório e complexo da História recente do Brasil. Aí, emergirá um terceiro Lula. Nem bandido, nem santo. Ou ambos, ao mesmo tempo.