A Sessão Nostalgia da Sala Paulo Amorim, em Porto Alegre, vai exibir neste sábado (2) o clássico O Iluminado (The Shining, 1980), versão do diretor Stanley Kubrick para um romance do escritor Stehen King. A exibição será às 22h, com ingressos a R$ 10.
O Iluminado é um dos marcos da história do cinema a ser visto e revisto. E é também um dos mais notórios casos no debate sobre adaptações de obras literárias.
Basicamente, King, 77 anos, reclama da falta de fidelidade por parte de Kubrick (1928-1999), especialmente em relação ao protagonista. No livro, o aspirante a escritor Jack Torrance é um bom pai que, aos poucos, vai sucumbindo ao alcoolismo e ao isolamento no Overlook, um hotel assombrado nas montanhas do Colorado, nos EUA, onde ele vai trabalhar como zelador durante os cinco meses em que o lugar fica fechado por causa da neve. No filme, a bebida mal aparece, e desde os primeiros minutos o personagem interpretado por Jack Nicholson é detestável. Mas um detestável adorável, né? Somos capazes de decorar e repetir todas as suas falas e seus trejeitos enquanto começa a surtar e a ameaçar sua esposa e seu filho pequeno e sensitivo (daí o "iluminado" do título) — Wendy (Shelley Duvall, excelente no papel) e Danny (Danny Lloyd, em seu único trabalho de ator).
Conhecido por seu rigoroso perfeccionismo, o cineasta de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica (1971) imprimiu em O Iluminado um clima de progressiva tensão psicológica que vai embaralhando realidade e alucinação. A tela grande permite também apreciar elementos com os quais o diretor tinha um esmero de artesão, da cenografia à precisão dos movimentos de câmera, da trilha sonora às expressões dos atores, submetidos a repetições de tomadas por vezes excruciantes até obterem a aprovação de Kubrick.
Com o tempo, a mitologia dos fãs em torno de O Iluminado ganhou dedicação religiosa (ao mesmo passo em que o filme era reverenciado, copiado ou parodiado). Tanto que rendeu o curioso documentário O Labirinto de Kubrick (Room 237, 2012, indisponível no streaming), no qual o diretor Rodney Ascher compila as mais intrigantes e malucas teorias que procuram no clássico significados diversos e mensagens subliminares. Ascher coloca o filme em perspectiva com a obra de Kubrick, exibe bastidores das filmagens, destaca as brilhantes inovações técnicas e segue as "pistas" que o mestre teria deixado sobre temas tão distintos como o genocídio dos indígenas nos EUA e "farsa" da chegada do homem à Lua, em 1969.
Crítico de primeira hora da versão de seu livro — publicado originalmente em 1977 —, Stephen King escreveu em 2013 uma continuação, Doutor Sono. O romance também foi levado ao cinema, desta vez com aprovação do mestre do suspense. Sob direção de Mike Flanagan (das minisséries A Maldição da Residência Hill e Missa da Meia-Noite), Doutor Sono (2019, disponível na plataforma Max) começa mais ou menos de onde O Iluminado parou. Logo depois, Ewan McGregor encarna um Danny adulto, lidando com os traumas dos eventos ocorridos no Overlook e encarando novos perigos.
Fica a dica: veja O Iluminado na Sala Paulo Amorim e depois assista a Doutor Sono.
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