Sexta-feira 13 é o dia sagrado para ver filmes de terror.
Desta vez, montei duas listas, cada uma com 13 títulos. Uma, só com clássicos do gênero, é exclusiva para assinantes da minha newsletter (clique aqui para saber como receber). Aqui na coluna, selecionei os melhores — para o meu gosto, é claro — lançados nos últimos três anos e que estão disponíveis nas plataformas de streaming. (Se quiser ir no cinema, a dica é Não Fale o Mal, que acabou de estrear.)
Dá para fazer uma breve volta ao mundo: tem obras de diretores e diretoras da Argentina, do México, dos Estados Unidos, do Canadá, da Bélgica, da França e da Austrália. Tem terror com pegada sociopolítica, tem violência barra-pesada, tem ameaças sobrenaturais, tem invasão alienígena. A ordem é puramente alfabética. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Entrevista com o Demônio (2023)
De Cameron Cairnes e Colin Cairnes. Os irmãos gêmeos australianos fizeram um falso documentário sobre os acontecimentos sinistros registrados durante um episódio de um talk show, na noite de Halloween de 1977. Para aumentar a audiência, o apresentador brilhantemente interpretado por David Dastmalchian convida para o programa uma garota supostamente possuída pelo Diabo. A construção de atmosfera é maravilhosa. (Aluguel em Amazon Prime Video e Apple TV)
2) Fale Comigo (2022)
De Danny Philippou e Michael Philippou. Apesar de, a certa altura, se tornar um filme genérico de possessão e trauma, a estreia dos gêmeos australianos egressos do YouTube garantiu lugar na lista pela habilidade em conjurar um clima lúgubre, pelo despudor ao lançar mão da violência (com um trabalho assombroso de sonoplastia) e por pelo menos duas grandes ideias. A primeira vem à tona na impactante cena de abertura, que retrata como o hábito de estar sempre com o celular em punho, filmando tudo e a todos, mudou nossa relação com a realidade. A lente é como um anteparo, nos anestesia, nos dessensibiliza. A segunda grande ideia de Fale Comigo é comparar os rituais macabros a vícios e entorpecentes, como a pornografia ou as drogas. Solidão e urgência são características dos personagens, como expressa o título, praticamente uma súplica. (Amazon Prime Video)
3) Fresh (2022)
De Mimi Cave. A primeira meia hora transcorre como comédia romântica: Noa (Daisy Edgar-Jones), uma jovem já desencantada dos encontros via aplicativos, conhece Steve (Sebastian Stan). Quando enfim aparecem os créditos de abertura de Fresh, o cardápio servido pela diretora estadunidense já é totalmente diferente, apostando no apetite do espectador por um tanto de sangue e um tanto de humor — e sabendo a hora de acentuar o sabor de um em detrimento do outro. (Disney+)
4) Huesera (2022)
De Michelle Garza Cervera. Coprodução entre México e Peru, mistura terror corporal com terror psicológico e ainda terror social. Natalia Solián interpreta Valeria, uma mulher grávida pela primeira vez que se vê ameaçada por forças ocultas. Os flashbacks que apresentam o passado da protagonista ajudam a construir o olhar crítico da diretora para as pesadas expectativas que recaem sobre os papéis femininos na sociedade. (Amazon Prime Video)
5) O Mal que nos Habita (2023)
De Demián Rugna. Os moradores de uma pacata cidade do interior da Argentina recebem uma notícia alarmante: um homem infectado pelo diabo está prestes a dar à luz um demônio real. Desesperados, os habitantes tentam escapar do local. Tem uma das cenas mais chocantes dos últimos tempos. (Netflix)
6) Megalomaníaco (2023)
De Karim Ouelhaj. Os personagens principais são os supostos filhos de um assassino serial que assombrou a Bélgica nos anos 1990, o Carniceiro de Moons. O diretor e roteirista mostra como o mal pode ser transmitido, como o mal contamina, como a vítima pode se tornar agressor. E controla as explosões de violência — cenas de estupro, assassinato, humilhação, sequestro, cárcere privado, espancamento, marteladas na cabeça, golpes de faca... — para que elas tenham o maior impacto possível quando ocorrem. Também balanceia a crueza com o onírico e contrasta a brutalidade com planos que chegam a ser deslumbrantes na composição e na iluminação, ambas inspiradas na pintura barroca. (Looke)
7) Não! Não Olhe! (2022)
De Jordan Peele. Mistura terror, faroeste e ficção científica para fazer tanto uma homenagem ao cinema quanto uma crítica a Hollywood. Por um lado, sugere que um fato, uma coisa — no caso, a invasão alienígena testemunhada pelos personagens de Daniel Kaluuya, Keke Palmer e Steven Yeun — só é real quando captado por uma câmera. Por outro, examina o histórico apagamento dos negros na indústria do entretenimento. O filme começa mostrando a primeira imagem em movimento, a de um jóquei montando um cavalo, produzida em 1879 pelo fotógrafo Eadweard Muybridge. Esse nome e o do animal, Occident, correram o mundo, mas do homem negro que estava sobre a sela quase nada se sabe — coube a Peele criar sua identidade e sua linhagem. (Amazon Prime Video)
8) Ninguém Vai te Salvar (2023)
De Brian Duffield. A invasão alienígena, logo nos minutos iniciais, funciona como catalisadora do processo pelo qual a personagem interpretada pela ótima atriz Kaitlyn Dever deve passar. É um processo solitário, como indica o título, que também alude à situação da personagem no enfrentamento aos E.T.s. E o diretor praticamente prescinde do diálogo ao longo de seus 93 minutos de duração, espelhando tanto a incomunicabilidade da protagonista com os demais moradores da cidade quanto seu silêncio em relação a um episódio traumático. Essa combinação do terror físico com o psicológico conquistou Stephen King e Guillermo del Toro. (Disney+)
9) Noites Brutais (2022)
De Zach Cregger. Durante uma noite chuvosa, Tess (Georgina Campbell), ao chegar à casa de Detroit que alugara via Airbnb, descobre que há um outro inquilino no local. A escalação de Bill Skarsgard, o sinistro palhaço Pennywise dos filmes It (2017 e 2019), para esse papel é uma piada ou um aviso? Descubra por conta própria enquanto o diretor e roteirista estadunidense exibe seu talento para aproveitar o cenário e sua capacidade de reverter expectativas do espectador. Quando o filme começou, eu jamais poderia imaginar os rumos que iria tomar. (Netflix)
10) Piscina Infinita (2023)
De Brandon Cronenberg. Ambientado em um país fictício que cruza ilhas do Caribe, Leste Europeu e Oriente Médio, La Tolqa, o filme do filho do cineasta canadense David Cronenberg apresenta Alexander Skarsgård e Cleopatra Coleman como James e Em, um casal hospedado em um resort de luxo. Ela é uma herdeira bilionária, ele, um escritor que só publicou um livro, já há muitos anos, e busca inspiração para o próximo. No local, eles ficam amigos de outros ricaços, incluindo Gabi (Mia Goth, tão sedutora quanto tóxica) e seu marido mais velho (Jalil Lespert). Quando James provoca acidentalmente uma morte, percebemos que a elite sempre sairá impune: graças a um sistema de clonagem humana, é o clone do protagonista que acaba condenado à morte. Assim, todos podem se esbaldar infinitamente em orgias sexuais regadas a álcool e drogas e em episódios de violência. (Telecine)
11) A Primeira Profecia (2024)
De Arkasha Stevenson. Eu confesso que quase deixei passar quando estreou nos cinemas, cansado de tantas apostas de Hollywood na nostalgia e do excesso de títulos de terror protagonizados por freiras. Mas o prelúdio do clássico A Profecia (1976) parte de uma ótima ideia: contar a história da mãe de Damien, o Anticristo, mulher que não havia recebido atenção nos cinco filmes e no seriado anteriores. A trama, a época (os anos 1970) e o cenário (Roma) convidam a diretora a citar clássicos como O Bebê de Rosemary (1968) e O Exorcista (1973), a emular o clima da trilogia da paranoia de Alan J. Pakula e a pegar emprestado elementos do giallo. (Disney+)
12) Toc Toc Toc: Ecos do Além (2023)
De Samuel Bodin. Neste filme estadunidense com diretor francês, Woody Norman interpreta o menino Peter, tratado pelos pais (Antony Starr e Lizzy Caplan) com um misto de superproteção e negligência. Ora impedem o guri de participar da tradicional brincadeira de "doces ou travessuras" por causa do desaparecimento de uma garota em um Halloween do passado. Ora não parecem dar bola para o bullying que ele sofre na escola e fazem pouco caso de seus relatos sobre as batidas na parede e as vozes que ouve à noite. Ainda a certa altura escorregue para o explicativo em demasia, Toc Toc Toc merece ser visto pela atmosfera amedrontadora e por seu simbolismo: eis uma poderosa fábula sobre trauma, um monstro do qual nem sempre conseguimos escapar, um pesadelo capaz de nos assaltar todas as noites. (Amazon Prime Video)
13) Você Não Estará Só (2022)
De Goran Stolevski. Convém não esperar sustos, este é um terror meditativo. Estrelado pela sueca Noomi Rapace, o filme australiano se passa em um vilarejo da Macedônia do século 19, onde as ações de uma bruxa de pele toda queimada conhecida como Maria Donzela (interpretada pela romena Anamaria Marinca) desencadeiam reflexões à la Terrence Malick sobre o que significa ser humano, sobre a visão de mundo das crianças, sobre os papéis sociais atribuídos às mulheres, sobre a masculinidade tóxica, sobre a descoberta do amor e da vida em comunidade, sobre colocar-se no lugar do outro. (Aluguel em Apple TV e Google Play)
Bônus: M3GAN (2023)
De Gerard Johnstone. Não sou fã, mas entra na lista para dar, digamos, uma relaxada, já que investe bastante no humor — uma aposta que rendeu US$ 180 milhões nas bilheterias. Mas o filme também atraiu o público por abordar dilemas bem atuais do mundo da tecnologia. Na trama, Gemma (Allison Williams), uma especialista em robótica, está sendo pressionada a terminar o protótipo de uma boneca com inteligência artificial. Quando ela se vê responsável por cuidar da sua sobrinha de oito anos, Cady, que acaba de ficar órfã, Gemma tenta resolver seus dois dramas de uma vez só: ela presenteia Cady com M3GAN, que se prova muito fiel. Fiel até demais: basta alguém chegar perto da criança para acionar o instinto protetor — e sanguinário — do brinquedo. (Telecine)
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