A Tela Quente desta segunda-feira (28) vai exibir um filmaço que atualmente está indisponível nas plataformas de streaming: Bom Comportamento (Good Time, 2017), dirigido pelos irmãos Benny Safdie e Josh Safdie e protagonizado por Robert Pattinson. Assista a partir das 23h05min, na RBS TV.
Concorrente no Festival de Cannes (onde foi premiada a música pulsante de Daniel Lopatin, assinando como Oneohtrix Point Never), este é um dos trabalhos mais elogiados dos nova-iorquinos Safdie, também realizadores de Amor, Drogas e Nova York (2014) e Joias Brutas (2019). Ao lado de Cosmópolis (2012), de David Cronenberg, e de O Farol (2019), de Robert Eggers, Bom Comportamento é um dos títulos que firmaram a transição de Pattinson. Do vampiro sem sal que o consagrou na saga adolescente Crepúsculo (2008-2012), emergiu um ator com muita energia para enfrentar desafios — que incluem Batman (2022). Na época dos filmes dos Safdie, ele não cogitava atuar em filmes de super-herói.
— Até gosto do gênero, como espectador, mas nunca tive confiança suficiente em mim para fazer algo assim. Não sou o tipo de pessoa disposta a salvar o mundo. Acho que sou melhor fazendo o oposto — disse em entrevista ao jornal O Globo.
E, de fato, em Bom Comportamento o personagem do ator inglês anda do outro lado da lei. Trata-se de Constantine Nikas, o Connie, um escroque que se acha mais esperto do que é (embora realmente seja um craque do improviso) e que comete atos de mau-caratismo em nome de um sentimento que pode ser considerado nobre por muitos espectadores. Sim, Connie é um predador, mas também um sujeito patético, e Pattinson intercala essas personas de um modo tão fascinante quanto repugnante.
Percebe-se que Connie é uma espécie de força da natureza na abertura do filme. Primeiro, acompanhamos uma sessão de terapia entre um psiquiatra e o irmão com deficiência intelectual do protagonista, Nick (papel de Benny Safdie, ator também em Oppenheimer). Alternando plano e contraplano, a cena transcorre em um ritmo estável, até que o personagem de Pattinson entra na sala, encerrando abruptamente a conversa e estabelecendo o clima nervoso e caótico do restante da história.
Juntos e mascarados, Connie e Nick vão tentar assaltar um banco. Mas as coisas não dão nada certo. A partir daí, entramos em uma jornada desnorteada pelo submundo de Nova York, uma corrida contra o relógio e uma espiral de erros que remetem tanto ao filme seguinte dos Safdie, Joias Brutas, quanto a Depois de Horas (1985), de Martin Scorsese — não à toa, o cineasta é o primeiro nome na lista de agradecimentos nos créditos finais.
Há outras inspirações visíveis, como Perdidos na Noite (1969), de John Schlesinger, Caminhos Perigosos (1973), do próprio Scorsese, e Um Dia de Cão (1975), de Sidney Lumet. Como esses clássicos do movimento batizado de Nova Hollywood, Bom Comportamento retrata personagens marginais ou marginalizados e reflete em cenários degradados e com uma estética crua a corrosão da vida urbana. Antenados a seu tempo, os Safdie também expõem como o privilégio branco e o racismo estrutural abrem buracos no tecido social por onde podem passar ratos, sobretudo quando têm a cara do Robert Pattinson.