
Como o título indica, As Quatro Estações do Ano (The Four Seasons, 2025) se passa ao longo de quase um ano inteiro, mas pode ser maratonada em um único dia: a minissérie disponível na Netflix tem oito episódios de meia hora cada.
Uma das séries mais vistas na plataforma de streaming desde sua estreia, em 1º de maio, As Quatro Estações do Ano é a modernização do filme homônimo de 1981 dirigido, escrito e estrelado por Alan Alda, que, aos 89 anos, faz uma breve participação especial em um dos episódios. Aliás, o elenco é um senhor chamariz.
Steve Carell, 62 anos, disputou seis vezes o prêmio Emmy de melhor ator pelo Michael Scott do seriado The Office e concorreu ao Oscar por Foxcatcher (2014).
Tina Fey, 54, uma das criadoras da minissérie, ao lado de Lang Fisher e Tracey Wigfield, ganhou o Emmy de melhor atriz em comédia pela Liz Lemon de 30 Rock e duas vezes o troféu de atriz convidada por participações no Saturday Night Live, programa no qual ela despontou como roteirista.

Também egresso do Saturday Night Live, Will Forte, 54, competiu três vezes no Emmy na pele do protagonista de O Último Cara da Terra.
Colman Domingo, 55, recebeu duas indicações seguidas ao Oscar de melhor ator: por Rustin em 2024 e por Sing Sing em 2025.
E Kerri Kenney, 55, foi indicada duas vezes ao Emmy de melhor atriz cômica pela policial Trudy Wiegel de Reno 911!.
Sessenta e dois, 54, 55... Eis um grande diferencial de As Quatro Estações do Ano: quase todos os personagens principais já passaram dos 50 anos. Com comicidade — vide a carreira dos atores —, encaram as delícias e as dores da meia-idade, que incluem a cumplicidade, a sabedoria, os problemas de saúde, as diferenças geracionais, o relacionamento por vezes difícil com os filhos, a substituição do romantismo pelo aconchego e o medo de que o tempo já esteja curto demais para voltar a ser feliz.
Qual é a trama de "As Quatro Estações do Ano"?

Talvez esta comédia dramática da Netflix não converse tanto com adolescentes ou com quem tem 20, 30 anos. Mas os cinquentões e os sessentões podem se reconhecer bastante em As Quatro Estações do Ano, a despeito de alguns visíveis privilégios da turma de seis amigos retratada na ficção.
Esses seis amigos formam três casais. Dois deles têm os mesmos nomes do filme de 1981: Nick (papel de Steve Carell) e Anne (Kerri Kinney), Jack (Will Forte) e Kate (Tina Fey). O terceiro, Danny e Claudia no original, foi adaptado para os novos tempos: agora é um casal homossexual e inter-racial, Danny (Colman Domingo, já apontado como "o primeiro astro negro gay") e Claude (o italiano Marco Calvani, que é casado com o ator brasileiro Marco Pigossi).
A mudança remete a uma piada da série cômica O Estúdio (2025), do Apple TV+, que faz referência à preocupação de produtores da Hollywood atual em montar elencos representativos de diferentes etnias e orientações sexuais — o que muitas vezes pode configurar um quebra-cabeças com soluções complexas ou fáceis demais (como parece ser o caso).

Cada par de episódios acompanha uma viagem de férias, fim de semana ou feriadão e está ambientado em uma estação do ano, na seguinte ordem: primavera, verão, outono e inverno. No primeiro capítulo, Jack, Kate, Danny e Claude rumam para a mansão de Nick e Anne à beira de um lago.
Durante uma caminhada, logo no início da trama, o personagem de Carell solta a bomba para os amigos encarnados por Domingo e Forte: depois de 25 anos de casamento, ele quer o divórcio. Acha que o amor acabou, sucumbido pela rotina e pelo tédio.

Jack diz que é normal casais de longa data se sentirem, às vezes, como colegas de quarto. Mas Nick retruca — para ele, a situação é pior:
— Somos como colegas de trabalho em uma usina nuclear. Ficamos sentados na mesma sala a noite toda, monitorando telas diferentes.
A comparação, tão engraçada quanto impiedosa, ilustra um trunfo de As Quatro Estações do Ano: eis uma comédia que não é bobinha, mesmo que também seja hábil em investir no humor físico e nas trapalhadas (como na viagem da trupe para um resort tropical ecológico). As situações vividas pelos personagens e seus diálogos podem fazer rir, mas no instante seguinte vem à boca um gosto amargo. A alegria imediata e momentânea convive com uma angústia capaz de ser mais duradoura: será que nós somos assim? Será que vamos ficar assim?
O anúncio de Nick cria um rebuliço prático e também emocional nos seus amigos. Eles não sabem como lidar com o rompimento de um elo na cadeia social que construíram com tanto carinho ao longo do tempo e, paulatinamente, passam a ver com outros olhos os seus próprios relacionamentos amorosos ou de amizade.
Os personagens da minissérie tendem a julgar as pessoas e o mundo em geral — a ponto de Danny brincar sobre Jack e Kate: "Reclamar é a versão deles para sexo". Mas agora cada um, a certa altura e em maior ou menor grau, com ou sem humor, precisará se sentar no lugar do réu. Por que você não se cuida melhor? Por que você é tão controlador? Por que sou eu que tenho de fazer tudo? Por que você confia tão pouco no meu jeito de fazer as coisas?
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