Goste-se ou não da importação de tradições, a cada ano a celebração do Halloween ganha força no Brasil.
Na noite do dia 31 de outubro, meu ritual favorito é assistir a um bom filme de terror.
Para ajudar quem não acompanha tanto o gênero, fiz uma lista com 10 dos melhores títulos lançados de 2020 para cá — considerando apenas aqueles que estão disponíveis no streaming (e avisando que nem todos são só de horror: há mistura de gêneros e espaço para comentários sociopolíticos). Clique nos links se quiser saber mais.
O Homem Invisível (2020)
O diretor australiano Leigh Whannell mostra como as histórias de terror podem se adaptar aos tempos. Na sua versão para o clássico escrito por H.G. Wells em 1897, o foco não está no cientista que descobre a fórmula da invisibilidade nem nos dilemas éticos e morais que revestem a trama, como a intoxicação pelo poder e os riscos trazidos pela impunidade. E, em vez de um, temos uma protagonista: pelo olhar da personagem de Elisabeth Moss, o Homem Invisível transforma-se em um símbolo dos relacionamentos tóxicos. (Netflix e NOW)
Host: Cuidado com Quem Chama (2020)
Assinado pelo britânico Rob Savage, Host é um filme de terror que captou o espírito de seu tempo — literalmente. Um grupo de amigas em distanciamento social, oscilando entre o tédio e a ansiedade provocados pela pandemia, resolve apimentar suas reuniões via Zoom — e a história toda é contada como se estivéssemos vendo uma reunião no Zoom. O algo novo a que se propõem é uma sessão espírita virtual, que acaba virando uma roubada. (Netflix)
O que Ficou para Trás (2020)
Primeiro longa-metragem do diretor e roteirista inglês Remi Weekes, é um filme de casa mal-assombrada, de fantasmas e de sustos, mas esses elementos clássicos estão mesclados a um drama real e atual. É o dos refugiados, vindos de países em guerra ou onde sofrem perseguição política, religiosa, étnica etc. — encarnados, em cena, pelos personagens de Sope Dirisu e Wunmi Mosaku, que escaparam do Sudão do Sul para experienciar o terror num subúrbio da Inglaterra. (Netflix)
Possessor (2020)
Filho de peixe, peixinho é. A exemplo do pai, o cineasta canadense David Cronenberg, o diretor Brandon Cronenberg mistura terror, ficção científica e sexo neste filme estrelado por Andrea Riseborough, Christopher Abbott, Sean Bean e Jennifer Jason Leigh. Na trama, uma agente de uma organização secreta usa a tecnologia de implantes cerebrais para habitar o corpo de outras pessoas, levando-as a cometer assassinatos para clientes que pagam caro. Mas, algo dá errado e ela logo se vê presa na mente de um homem cujo apetite por violência rivaliza com o seu. (HBO Max)
Censor (2021)
É o primeiro longa-metragem da diretora inglesa Prano Bailey-Bond, do premiado curta Nasty (2015). Em 1985, na Inglaterra, a censora de filmes Enid (Niamh Algar) depara com uma grotesca, mas familiar, produção de terror. Ela decide investigar o passado, que envolve o desaparecimento de sua irmã. (Globoplay)
Maligno (2021)
O cineasta australiano nascido na Malásia James Wan (o mesmo de Invocação do Mal) homenageia o italiano Dario Argento, o estadunidense Brian De Palma e o canadense David Cronenberg neste filme que é um desbunde do ponto de vista técnico: as movimentações de câmera, os planos zenitais (quando as cenas são vistas de cima), os jogos de ilusão entre cenários, maquetes e efeitos especiais, o despudor nas explosões de violência. Há um clima oitentista, realçado pela música composta por Joseph Bishara, pela estupidez dos personagens em relação ao perigo, pela canastrice dos coadjuvantes, pelos diálogos expositivos, pela névoa que envolve os ambientes, pela intersecção de experiência científica com geração de monstros e pela tentativa de imprimir humor em cenas mórbidas.
Se o clima é dos anos 1980, a trama começa em 1993. Estamos em um sinistro hospital psiquiátrico à beira de um penhasco, tipo um castelo de Frankenstein, onde um grupo de médicos e enfermeiros tenta controlar a fúria sanguinária de um paciente chamado de Gabriel. Corta — em mais de um sentido! — para os dias de hoje, quando Madison Mitchell (vivida com gana e carisma por Annabelle Wallis) lida com uma gravidez de risco e um marido violento. A partir daí, a protagonista e o espectador passam a ser assombrados pela aparição de um personagem grotesco e por assassinatos sangrentos. (HBO Max)
Fantasmas do Passado (2022)
A estadunidense Mariama Diallo baseou-se na própria experiência como mulher negra em uma instituição de ensino majoritariamente branca, a Universidade Yale. O título original de Fantasmas do Passado vem de um cargo que existiu em universidades como Harvard até poucos anos atrás: Master é uma espécie de bedel, responsável por acompanhar os alunos e ter certeza de que tudo está indo bem nos dormitórios. Mas master também é a palavra utilizada para designar os donos de escravos — com o passar do tempo, esse duplo sentido perturbou Diallo. No filme, ela imagina como seria se o cargo na fictícia Ancaster College fosse ocupado por uma mulher negra: Gail Bishop, personagem de Regina Hall. Cabe a ela receber os novos alunos, incluindo uma garota negra, Jasmine Moore (Zoe Renee), que vai dividir o quarto com uma estudante branca, Amelia (Talia Ryder). Essa relação começa de forma amistosa, mas paulatinamente Jasmine se torna alvo de comentários maldosos e piadas racistas. Ao mesmo tempo, a caloura lida com assombrações que se conectam com o episódio histórico das bruxas de Salem, no final do século 17. (Amazon Prime Video)
Fresh (2022)
Escrito por Lauryn Kahn e dirigido pela estreante Mimi Cave, este filme estadunidense é um prato que, quanto menos soubermos de seus ingredientes, mais poderemos degustá-lo. Mas também pode ser que nos repugne. É que Fresh não tem vergonha de ser franco (ou seria absurdo?) na sua metáfora sobre a violência sexual e a objetificação da mulher. As cenas não chegam a ser grotescas (na verdade, o caráter sedutor delas potencializa a crítica) e evitam ao máximo a exploração sádica — afinal, esta é uma perspectiva feminina. As iscas são jogadas na primeira meia hora de filme, que transcorre como se fosse uma comédia romântica: mostra a aproximação de Noa (Daisy Edgar-Jones), uma jovem já desencantada dos encontros marcados via aplicativos, com Steve, o personagem interpretado por Sebastian Stan. Quando enfim aparecem os créditos de abertura, a mesa já está servida. A diretora Cave e a roteirista Kahn apostam no apetite do espectador por um pouco de sangue e um pouco de humor — e a dupla sabe o momento de acentuar o sabor de um em detrimento do outro. (Star+)
Noites Brutais (2022)
Com o título original de Barbarian, foi escrito e dirigido por Zach Cregger, egresso da trupe de comédia The Whitest Kids U' Know. Percebe-se a origem humorística neste filme de terror, especialmente no modo irônico de abordar temas como abuso sexual e preconceito social, mas os elementos mais proeminentes são o talento para usar o cenário e a capacidade de reverter expectativas do espectador. Dito isso, não dá para avançar muito na sinopse: vista na minissérie Suspicion (2022), a inglesa Georgina Campbell interpreta Tess, que, durante uma noite chuvosa, ao chegar à casa de Detroit que alugara via Airbnb, descobre que há um outro inquilino no local. A escalação de Bill Skarsgard, o sinistro palhaço Pennywise dos filmes It (2017 e 2019), para esse papel é uma piada ou um aviso? Descubra por conta própria. (Star+)
O Predador: A Caçada (2022)
É o que Hollywood chama de prequel, ou seja, uma obra ambientada em uma época anterior à da trama original — O Predador (1987), mistura de ação, ficção científica e terror em que o esquadrão militar comandado por Arnold Schwarzenegger depara com uma criatura alienígena brutal, dotada de força sobre-humana e uma incrível capacidade de camuflagem. O sétimo filme da franquia foi dirigido por Dan Trachtenberg e se passa em 1719, em território americano então ocupado pelos indígenas comanches. A personagem principal é Naru (Amber Midthunder, cativante no papel). Ela foi treinada para ser uma curadora - e sabe tudo sobre ervas medicinais —, mas o que deseja é ser uma caçadora como Taabe, seu irmão mais velho. Ele reconhece o talento da irmã e concorda que ela se junte na caça a um leão da montanha que atacou um membro da tribo. Animais selvagens não serão os únicos perigos enfrentados. Embora se possa antecipar passos e destinos, A Caçada guarda algumas surpresas no desenrolar da trama e é muito eficiente naquilo a que se propõe — a tensão, por exemplo, é constante. (Star+)