A super-heroína em cartaz na Tela Quente desta segunda-feira (8), às 22h15min, na RBS TV, não derrotou apenas os vilões. Também precisou enfrentar os haters. Mas apesar da maciça campanha negativa orquestrada pela turma do ódio, Capitã Marvel (2019) tornou-se um dos 10 filmes da Marvel com a maior bilheteria, arrecadando US$ 1,12 bilhão. Aliás, à época de sua estreia nos cinemas o título ocupou o sétimo posto no ranking da franquia — depois, viria a ser ultrapassado por Vingadores: Ultimato (2019), Homem-Aranha: Longe de Casa (2019) e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021).
Dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck e protagonizado por Brie Larson — ganhadora do Oscar de melhor atriz por O Quarto de Jack (2015) —, Capitã Marvel surfa na onda do protagonismo feminino em filmes de ação e aventura, potencializada pelo sucesso da franquia Jogos Vorazes (2012-2015) e de títulos como Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e Mulher-Maravilha (2017). Foi a primeira aventura cinematográfica solo de uma personagem da Marvel, precedendo Viúva Negra (2021). (Entre as séries, já houve Jessica Jones, com duas temporadas entre 2015 e 2019, e Mulher-Hulk, que entra em cartaz no dia 25 de agosto na plataforma Disney+.)
A trama se passa na segunda metade dos anos 1990. A personagem principal é vista logo nas primeiras cenas como Vers, combatente de um esquadrão especial do exército da raça alienígena Kree. Treinada por um oficial rígido, Yon-Rogg (Jude Law, se divertindo no papel), e com problemas de memória, ela luta para se encaixar na avançada civilização em guerra com outro povo das estrelas, os transmorfos Skrulls.
Durante uma missão que se revela uma emboscada, ela cai nas mãos dos Skrulls e, após algumas experiências liberarem lembranças adormecidas — Vers é, na verdade, a piloto humana Carol Danvers —, a guerreira se vê de volta à Terra para tentar impedir os planos dos inimigos — uma missão que se torna uma busca pelo próprio passado ao lado de um então jovem Nick Fury (Samuel L. Jackson).
Capitã Marvel talvez seja apenas competente ao mostrar o surgimento da heroína, mas ganha pontos por seu simbolismo. É uma aventura que aborda a representatividade e o papel da mulher em campos majoritariamente dominados por homens, como a guerra e o próprio universo dos super-heróis. E contraria estereótipos: Carol Danvers é uma protagonista feminina que se define por si própria, e não por quem ela beija ou deixa de beijar. Eis uma personagem que cai, mas se levanta.
Houve também uma mudança importante em relação aos quadrinhos da Marvel. Nos gibis, os poderes da personagem são derivados de um guerreiro kree, Mar-Vell, que tinha interesse romântico por Carol. No filme, Mar-Vell é uma mulher, interpretada por Annette Bening, e uma cientista.
Por conta do enredo, Capitã Marvel já poderia ter atraído a implicância de um contingente de fãs. Mas foi a atriz Brie Larson o principal alvo de comentários raivosos.
Oscarizada ao interpretar em O Quarto de Jack uma mulher vítima de sequestro, cárcere privado e estupro, Larson levanta a bandeira feminista na indústria cinematográfica. No Oscar de 2017, ao anunciar o prêmio de melhor ator para Casey Affleck (Manchester à Beira-mar) — à época, envolvido em acusações de assédio sexual —, ela não bateu palmas, contrariando o protocolo da cerimônia.
Antes de Capitã Marvel estrear, Larson deu uma entrevista à revista Marie Claire dizendo que sentia falta de jornalistas mulheres nas coletivas de imprensa: "Cerca de um ano atrás, comecei a prestar atenção em como era o ambiente dos eventos de imprensa e aos críticos que escrevem sobre filmes. Notei que a grande maioria era de homens brancos", disse Larson. A percepção foi posta à prova com um estudo que ela mesma encomendou, confirmando sua suposição. "Dali em diante, decidi garantir que meus eventos com a imprensa sejam mais inclusivos", determinou.
O posicionamento da atriz motivou um ataque contra o filme no site Rotten Tomatoes, um dos maiores agregadores de críticas. Uma enxurrada de avaliações negativas foi postada às vésperas da estreia —grande parte dos comentários desabonadores vinha de usuários identificados como homens. Aaron G escreveu: "A partir do momento em que Brie começou a fazer campanha contra os homens brancos, perdi interesse no filme. Por que pagaria para ver um filme com uma mulher que odeia homens brancos? Ela pode chafurdar em sua vida cheia de ódio". Atualmente, no Rotten, Capitã Marvel tem 79% de aprovação pelos críticos e 45% junto ao público.