Ainda que sejam familiares para muita gente, há quem misture os roteiros do Vale dos Vinhedos e dos Caminhos de Pedra, ambos em Bento Gonçalves. Dá para visitar os dois em uma única viagem? Sim. E num só final de semana? Até dá, mas não é recomendável. Além de não serem tão próximos, eles oferecem tantas atrações que seria um desperdício correr de um lado para o outro. O mais razoável é combinar os Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, com atrações na vizinha Pinto Bandeira. E não são poucas. Fiquei um tempo sem visitar ambos, e foi reconfortante saber que não só a maioria dos empreendimentos se manteve como surgiram novos.
A ideia aqui não é traçar um roteiro completo, acrescentando mais um destino à série “A cidade ao lado”, mas contar só essa última experiência (e volte depois para o Vale dos Vinhedos que, aliás, abrange outros municípios como Garibaldi e Monte Belo do Sul!).
Caminhos de Pedra (Bento Gonçalves)
Hospedagem no Lote20
O hotel boutique abriu durante a pandemia, depois de a casa que ocupa ser reformada em 2019. Fica no coração dos Caminhos de Pedra, à beira da rodovia (não se preocupe, você não ouvirá barulho), tem arquitetura inspirada nas casas da região, mas é contemporâneo. Além do conforto interno (há apenas nove suítes), a área externa atrai ao convívio e ao relaxamento. Um pequeno parreiral cênico e muito verde emolduram a propriedade. Prepare-se para o café da manhã: ele vem em pequenas porções, mas é beeeem servido (sugiro não agendar o almoço para muito cedo). E, se não quiser se hospedar, há a possibilidade de agendar cestas de piqueniques e só aproveitar a área verde.
Mais em lote20.com.br.
Jantar no Piegora Bistrô
Também será uma experiência mais contemporânea um jantar neste bistrô aberto igualmente na pandemia, não só pela ambientação, mas pelo cardápio. A casa na qual se instalou, da década de 1950, abriga uma pousada (a Umani, com nove acomodações). Não vou poder falar do cardápio mais amplamente (nosso dia já havia sido uma orgia enogastronômica), mas os três pratos que experimentamos – um filé Wellington de cordeiro, o risoto de abobrinha e o nhoque de batata-doce – estavam deliciosos. Você poderá selecionar vinhos da região da adega disponível no fundo do salão. Funciona para jantar de terça a sábado e tem almoço aos domingos.
Mais em @piegorabistro.
Visita à Casa da Erva-Mate
Paga-se um valor simbólico para conhecer como era feita a produção artesanal da erva-mate, com socadores datados do início do século 20 movidos por uma também antiga roda d’água. Do lado de fora, há uma pequena plantação de erva-mate e o forno onde as folhas são sapecadas. Como havia entre nós quem desconhecesse o processo, a (re)visita ganhou novos contornos. No porão da casa da família Ferrari também há um empório onde se pode aprender a preparar o mate, degustá-lo e levar a erva-mate para casa, sem contar a quantidade de apetrechos à disposição. Em breve, um novo empreendimento deve abrir na propriedade.
Passadinha para fotos nas casas Ângelo e da Tecelagem
Uma das mais antigas e bem preservadas casas de pedra dos Caminhos, a Casa Ângelo, de 1889, funciona como restaurante e dá uma boa ideia de como eram feitas as construções de pedra de basalto unidas com uma mistura à base de barro, palha de trigo e feno. Na da Tecelagem, ainda que sejam reconstruções (as antigas casas foram desmontadas e remontadas no local), também ficam evidentes a arquitetura e o modo de vida dos imigrantes italianos e seus descendentes na região.
P.S.: há mais de 20 atrações, entre restaurantes, vinícolas e outras atividades nos Caminhos de Pedra. Mencionei só as que fui desta vez. Você pode conferir todas aqui: caminhosdepedra.org.br.
Pinto Bandeira
Almoço no Champenoise Bistrô
É um privilégio experimentar a “cozinha sazonal, orgânica e biodinâmica” deste pequeno bistrô que oferece menu degustação de cinco ou sete etapas, com cardápio que muda a cada estação e ingredientes frescos colhidos na propriedade ou vindos de produtores vizinhos. Não vou descrever o que comi desta vez, mas apenas dizer que você deve combinar com seus parceiros o que houver de opções para experimentar um pouco de tudo e não ficar invejando o outro pelas escolhas. Provamos ainda os vinhos brancos naturais da Unna, outro projeto do casal à frente do negócio. Reserve no mínimo duas horas para a refeição no conceito slow food. Funciona de quinta a domingo e feriados. Mais em @champenoisebistro.
Degustação na Família Geisse
Não saberia dizer qual seria a melhor sequência: a degustação antes ou depois do almoço? Bom, escolhemos o roteiro da tarde e fizemos a visita quase exclusiva, já que era o último horário em um dia de semana, com a vindima recém-encerrada. Há pelo menos quatro tipos de experiências aqui – algumas incluindo visitas aos vinhedos em 4x4 e trekking. Nossa opção: o tour guiado ao interior da vinícola instalada em 1979 com degustação (e uma pequena, mas deliciosa harmonização). Ainda que o site mencione quatro rótulos, experimentamos cinco, entre espumantes e vinhos, além do espumante de boas-vindas que nos acompanhou na visita.
Para voltar e conferir
Já experimentei a comida do chef Giordano Tarso, mas ainda não fui ao seu Colheita Butique Sazonal que há pouco figurou em lista entre os 100 melhores restaurantes do país; também estive reiteradas vezes na vinícola/pousada Don Giovanni, mas desde o ano passado ela abriga o espaço gastronômico Nature, que preciso conhecer; e me disseram para não deixar de ir à vinícola Valmarino... Sempre é bom ter motivos para retornar. Ah, no centro, a igreja matriz e sua torre são pequenas joias.