É bom não deixar o casal Débora de Aranha Haupt, 41 anos, e Jair Antônio Angelin, 45, assistindo por muito tempo a documentários sobre lugares e construções incríveis. Eles podem sair da frente da tela com a ideia de uma casa para hospedagem em uma árvore, a quatro metros do chão. Ops! Tarde demais!
A casa já existe. Tomou forma ao longo de seis meses durante a pandemia, inspirada no Treehouse Masters, e começou a receber hóspedes no final de fevereiro no Desvio Blauth, em Farroupilha. Fica a 50 metros da Cervejaria Blauth Bier e a 200 do Armazém do Desvio, uma espécie de complexo criado pelos descendentes do casal Carlos e Sophia Blauth, Débora entre eles.
O novo espaço de hospedagem resgata um pouco a história do Desvio Blauth, um dos primeiros destinos de verão do RS, no início do século 20, local para descanso e diversão, com lagos e passeios, próximo à linha férrea. Há uns 60 anos, o avô de Débora ainda plantou o bosque de pitangueiras onde a casa na árvore floresceu agora.
Para construí-la de forma acessível — uma condição e um conceito, já que Débora usa cadeira de rodas desde os 26 anos, quando sofreu um acidente e ficou tetraplégica —, além do que sugeria o manual de Pete Nelson, da Treehouse, contou muito a ideia da filha Manuela, 10 anos. É que eles queriam muito, mas achavam complicado erguer algo numa árvore, difícil para uma cadeirante usufruir, quando Manuela sugeriu uma rampa e eles se deram conta de que o terreno meio acidentado permitiria.
A parceria e disposição de uma empresa de Bento Gonçalves, com peças desenvolvidas por um engenheiro mecânico, e de uma pessoa da família que trabalha com arquitetura, fizeram o resto. O desafio duplo, da acessibilidade e de adaptar a casa às arvores — são quatro eucaliptos vermelhos gigantes, que tiveram a sanidade avaliada por uma engenheira ambiental —, exigiu materiais especiais e muita criatividade. Era preciso respeitar o movimento e o crescimento das árvores, que devem manter-se vivas e seguir crescendo.
A mesma equipe produziu os móveis, quase todos em madeira reciclada (os puxadores de portas e gavetas da cozinha são galhos, por exemplo), evitando materiais descartáveis. Jair, que trabalhou na indústria de malhas por anos a fio, dedicou-se pela primeira vez à marcenaria em peças da iluminação, mesinhas e bancos.
— Foi tudo muito mágico, fomos aprendendo com as pessoas que fizeram a casa — dizem eles.
No final, a construção ficou com área interna de 54 metros quadrados — há mais 50 metros de deque —, um espaço único com sala, cozinha e quarto. O banheiro com teto de vidro tem barras e pia adaptada, e o box, cadeira de banho. As rampas, o deque de madeira e o entorno do bosque permitem que um cadeirante circule com tranquilidade. O conceito da acessibilidade está em tudo, incluindo os posts sobre a casa na árvore em redes sociais, já que Débora trabalha com audiodescrição para deficientes visuais.
Na propriedade de três hectares há uma produção orgânica de pequenos frutos como framboesas, amoras e mirtilos — numa área maior, de 9,5 hectares, também cultivam nozes-pecan, e ali ainda pretendem criar trilhas para os visitantes.
Não são servidas refeições, mas os hóspedes recebem um kit para preparar o café da manhã, além de um bolo de boas-vindas. Na minicozinha equipada com utensílios básicos, os visitantes preparam suas refeições, se quiserem, e podem encomendar cestas de piquenique.
Ah, todo mundo conhece como Casa na Árvore, mas pode chamar de Morada dos Vagalumes, o nome oficial, influenciado pelos insetos que iluminam o bosque nas noites de verão no Desvio.
Para ir
A Casa na Árvore/Morada dos Vagalumes pode receber até cinco pessoas, incluindo o mezanino. Fica no Desvio Blauth, a 10 minutos do centro de Farroupilha e a 20 minutos do Vale dos Vinhedos. Está disponível na plataforma Airbnb, mas os proprietários podem dar informações via Instagram (@moradadosvagalumes), Facebook (@casanaarvoremoradadosvagalumes), e-mail (moradadosvagalumes@gmail.com) ou pelos fones (54) 99604-8655 e 99949-5783.
Outros endereços aéreos
Casa na Árvore (Santa Cruz do Sul)
Fixada em uma árvore nativa com cerca de 20 anos, resultou de uma provocação ao casal Walter e Sônia Siedschlag — morando no Exterior, os filhos diziam que o "pai nunca tinha feito uma casa na árvore para eles". Em 2017, Walter e Sônia aceitaram o desafio e surpreenderam os filhos com a construção, mas perceberam que o espaço acabaria subaproveitado. Por isso, começaram a disponibilizá-lo para aluguel por temporada em plataformas como Airbnb e Booking.com. O contato com pessoas de outros Estados e países, que sonham viver a experiência, é tido como uma das principais vantagens do empreendimento.
A casa tem 22 metros quadrados na área interna, podendo hospedar quatro pessoas, sem contar as varandas. É equipada com cozinha compacta, ar-condicionado, wi-fi, Smart TV e até um Super Nintendo. Na área externa, tem churrasqueira, pracinha, quadra de basquete e lago, em uma propriedade de 6 mil metros quadrados com 65 espécies de árvores frutíferas. Não oferece refeições, apenas kit de boas-vindas.
Pousada do Engenho (São Francisco de Paula)
A casa na árvore existia desde os tempos em que a propriedade abrigava o Sítio do Alano, do irmão e sócio de Alex Alano, como uma "casinha do Tarzan". Depois, com a pousada, em 2012 os sócios lhe deram a forma atual, com escada fixa, varandas e janelas amplas. Construída sobre um enorme pé de canela, tem 35 metros quadrados que comportam estar e jantar, banheiro e uma varandinha. No pequeno restaurante podem ser servidos café da manhã, almoços/jantares e piqueniques românticos (comporta só um casal). Mais em pousadadoengenho.com.br
Casa na Árvore do Recanto dos Lagos (Sério)
As famílias Aroldi e Girardi imaginavam usar a construção apenas para o próprio lazer, junto ao Recanto dos Lagos, mas em maio de 2021 ela foi aberta aos hóspedes. Erguida junto a um plátano, tem cerca de 60 metros quadrados (abriga quarto com cama de casal, mezanino com camas de solteiro, minicozinha, banheiro e varanda) e facilidades como wi-fi, TV e refrigeração. Na propriedade onde as famílias cultivam especialmente frutas, incluindo pitayas, é possível participar da colheita. Dá para pescar no açude em frente à casa e interagir com pequenos animais. A proposta é descanso, contato com a natureza, ruralidades e gastronomia colonial. O Recanto tem um outro espaço para hospedagem, um antigo paiol restaurado, e pretende abrir um lugar para meditação. Mais em @recantodoslagosrs e (51) 99302-1322