Foi num "retiro" de três semanas no Farol do Albardão, no litoral sul do Estado, que Egon Filter decidiu que seu próximo passo seria viver das estrelas. Após 40 anos trabalhando como executivo em empresas multinacionais, começava a nascer naquele período de isolamento o Centro de Astrofotografia de Cambará do Sul, aberto a partir da próxima sexta-feira (6). O hobby da última década passaria a ser seu projeto de futuro.
Instalou-se um ano e meio atrás na cidade onde estava acostumado, como visitante, a fotografar o céu noturno sem poluição luminosa, uma característica fundamental para quem se dedica a registrar os astros. Colocou a pedra fundamental no terreno de três hectares cercado de mata nativa e plantou ali mais 430 árvores frutíferas.
Agora, no Centro estalando de novo, onde criou uma mini galeria com 15 imagens de 1m20cmx80cm emolduradas, seguirá dando aulas para grupos de no máximo 12 pessoas — nos últimos anos, calcula já ter orientado 200 pupilos. Os cursos, que se iniciam às sextas-feiras à tarde com aulas teóricas, seguem por duas noites para as aulas práticas — de dia, ao longo do sábado e domingo, dá noções sobre tratamento das imagens, ensinando algo no qual está se especializando: cuidar das fotos para impressão em alta qualidade e papel especial para uso em decoração. É mesmo difícil resistir a esses retratos do céu que mostram a Via Láctea como só se pode ver no Hemisfério Sul, constelações e estrelas, milhares delas — em locais como Cambará é possível ver a olho nu cerca de 6 mil, enquanto em outros como Porto Alegre avistam-se em média apenas 50.
Egon Filter, 58 anos, nascido em Porto Alegre, formado em Engenharia Química e Direito, pai de duas filhas adultas, apaixonou-se pela astrofotografia ao caçar, por anos a fio, a aurora boreal, na Noruega. Lá pelas tantas, deu-se conta de que poderia viver experiência semelhante no lugar onde vive, o Rio Grande do Sul, e criou o projeto Caminho das Estrelas, em 2015. Recebeu autorização de órgãos ambientais para entrar em parques estaduais e federais e fotografar longe das luzes urbanas. Passou a compor as imagens do céu com araucárias, umbus, figueiras, rochas e desertos, e aí veio a demanda por ensinar a fazer o que aprendeu não só de forma autodidata, mas com dezenas de cursos. É o resumo da gestação do Centro de Astrofotografia.
Afinal, por que não mostrar a mais gente o que só 1% da população mundial já avistou, como a já citada Via Láctea? — o cálculo é da International Dark-Sky Association (IDA), que também estima que 80% das pessoas vivem em locais com poluição luminosa. E aqui vai um aparte a propósito da IDA: Egon Filter recebeu em 2021 o primeiro lugar na categoria "Connecting to the Dark" no concurso de astrofotografia promovido pela entidade.
Aos turistas sem maiores pretensões fotográficas que visitam Cambará, ele pretende mais adiante ensinar a fazer "selfie com as estrelas" — a pessoa em primeiro plano e a Via-Láctea como fundo. E segue na luta para transformar a cidade em local livre de poluição luminosa — não seriam preciso grandes investimentos, mas adequar a iluminação pública e dar formação aos estudantes e moradores em geral sobre o tema, explica.
O fotógrafo das estrelas enxerga o potencial para o turismo astronômico e a astrofotografia lembrando um fato curioso de Cambará: no ano passado, a Agência Espacial Americana (Nasa) reconheceu uma árvore plantada na praça central em 1982 como uma das 450 mudas distribuídas no mundo pelo projeto The Moon Trees (árvores da Lua) — frutos de uma experiência biológica da missão espacial Apollo 14, de 1971. No Brasil, há apenas três delas — as outras duas estão em Santa Rosa e Brasília. A semente para tudo isso já estava plantada. Por que não dizer que o projeto de Egon estava escrito nas estrelas?
Para inscrever-se nos cursos
- Não é preciso ser fotógrafo profissional, mas ter pelo menos conhecimentos básicos de fotografia. Egon Filter faz três exigências aos candidatos: uma câmera que troque a lente (uma grande-angular é fundamental), um tripé firme e uma lanterna de cabeça para manter as mãos livres. E adiciona um pedido: "levar um sorriso no rosto, para se divertir". Os cursos podem ocorrer uma vez por mês (na Lua Nova), mas dependem do número de inscritos e das condições meteorológicas.
- Informações no Instagram, em @egonfilter, e em facebook.com/egonf.ilter
- O Centro fica a 3 quilômetros de Cambará do Sul, por estrada de terra em boas condições.
E por falar em fotografia...
Iniciada no dia 8 de abril, em Canela, e concluída no dia 16 de abril, em Farroupilha, a quarta peregrinação da jornalista e fotógrafa Andréa Prestes pelos Caminhos de Caravaggio deverá render um livro para o qual estão sendo captados recursos por meio da plataforma Catarse. Autora do projeto Caminhos pelo Mundo, Andréa já publicou três livros fotográficos sobre cinco diferentes rotas do Caminho de Santiago de Compostela. Agora, ela quer fazer o mesmo com a série Caminhos pelo Brasil (incluindo o Caminho dos Faróis, também no RS, Caminho da Fé, em MG e SP, Circuito Vale Europeu, em SC, e Caminho da Prece & Rota das Capelas, em MG). A ideia é divulgar os roteiros e atrair mais peregrinos e visitantes. Para apoiar, o link é bit.ly/LivroCaravaggio.
Conversa sobre Orlando
Suspenso desde o início da pandemia, o programa do Projeto Amparo da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) retomou as atividades com rodas de conversa sobre lazer e viagem. No dia 9, às 17h, o o guia de turismo José Valmir da Costa falará sobre um dos destinos mais procurados por brasileiros no Exterior: Orlando e seus parques, nos EUA. O evento é gratuito e aberto ao público, na sala 21 na sede da Amrigs (Av. Ipiranga, 5.311, na Capital). Confirmar presença pelo (3014-2025 ou no e-mail csa@amrigs.org.br.