Assim como todo mundo, estou na torcida por aqueles 12 meninos e seu técnico de futebol confinados em uma caverna inundada na Tailândia. Mal consigo imaginar o desespero, deles e das famílias, durante os nove dias em que ficaram sem contato. Também não queria estar na pele de quem terá de explicar aos meninos, com idades entre 11 e 16 anos, as duas opções estudadas para poderem sair dali, ambas dificílimas: esperar de três a quatro meses (quatro meses!) até as águas baixarem ou serem preparados para um perigoso mergulho com equipamentos em túneis escuros.
Mesmo que cada um deles seja acompanhado por um mergulhador supertreinado ao longo dos quatro quilômetros que os separam da saída, a operação é considerada de grande risco. Sem preparo, li e ouvi a respeito, se a pessoa entra em pânico, pode consumir o ar do cilindro de oxigênio em poucos minutos. Só de pensar nisso já tenho falta de ar.
Costumo dizer que mergulhar foi UMA das experiências mais espetaculares da minha vida. Grafei UMA assim porque certamente será a única. Não pretendo repeti-la, ainda que tenha sido em um paraíso de águas transparentes. Para dizer a verdade, não pretendia mergulhar. Nadadora mediana, tremia com a ideia. Mas a amiga que viajava comigo me convenceu de que seria um desperdício estar em Fernando de Noronha e não fazer o "batismo submarino". Decidi ir no primeiro dos cinco dias, para não ficar me torturando.
Fiz o treinamento e fui (lembrei agora que, numa outra oportunidade, já havia feito o treinamento, e não fui!).
Mesmo mergulhadores experientes costumam dizer que os pontos de mergulho mapeados à volta de Noronha estão entre os melhores do mundo. A fauna marinha é sensacional, a temperatura da água, em torno de 26ºC, agradabilíssima, e a visibilidade horizontal é de cerca de 50 metros. Ou seja, perfeito. No meu caso, mergulhei em grupo, a uma profundidade máxima de 12 metros, com um instrutor para cada pessoa e com a opção de nadar sendo segurada pela mão. Adivinhem a minha escolha?
Mesmo que cada um dos que estão presos seja acompanhado por um mergulhador supertreinado, a operação é considerada de grande risco.
Os primeiros minutos resultaram em encantamento e numa descoberta pueril: o fundo do mar é silencioso. Ouvia apenas o som das borbulhas que saíam do meu equipamento. O desfile de formas e cores enchia os olhos e, até então, me fazia esquecer quem eu era ou que raios estava fazendo ali. Até o momento em que considerei ter visto o suficiente, queria voltar, não enxergava onde acabava aquela imensidão de água... Acostumada a manter a calma em situações de estresse, lembrava direitinho das orientações, muito simples mesmo para um iniciante.
O instrutor não hesitou e em pouco tempo estávamos na superfície, mas looooonge do nosso barco, e o pobre teve de praticamente me arrastar até ele. Ao chegar, descobri que havia ficado 18 dos 23 minutos previstos. Mas não teria resistido um segundo a mais.
Também por isso, entendo a necessidade da preparação psicológica a que os 12 meninos terão de ser submetidos, para qualquer uma das situações, e, principalmente, para essa que dá falta de ar só de pensar: mergulhar praticamente no escuro dentro de uma caverna. Que o treino, a tecnologia e toda a nossa torcida os salvem.