Quando éramos pequenos, meu irmão mais novo e eu costumávamos imitar um casal de crianças de uma propaganda da TV. No comercial, elas serviam o refrigerante gelado em um copo grande, colocavam nele dois canudos de plástico e sorviam a bebida juntos, deitados no chão da sala, com um prazer indescritível.
Por sorte, na nossa casa, refrigerante era raridade, um luxo que só aparecia à mesa aos domingos – em geral, uma garrafa de guaraná para ser compartilhada por todos em pequenos copos de vidro para disfarçar a pouca quantidade. Mas aquele comercial mágico não saía da cabeça. Então, recriávamos nossa versão: para beber o refresco feito com limões colhidos no quintal, improvisávamos canudos com caules de trigo. Repetíamos o gesto dos atores do comercial enquanto houvesse limonada ou o canudo não quebrasse, o que era raro.
Morreremos nós todos, mas os canudinhos, as sacolas plásticas e os balões de aniversário seguirão por aí.
Lembrei-me de nossos "canudos biodegradáveis" no início de junho, nas comemorações do dia do meio ambiente.
A Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu como tema, para celebrar a data, a poluição por plástico, alertando para os riscos do descarte irresponsável desses objetos e utensílios tão presentes no nosso dia a dia. Rejeitados sem dó, ficam vagando por séculos no solo, em rios e oceanos. Morreremos nós todos, mas os canudinhos, as sacolas plásticas e os balões de aniversário seguirão por aí.
Vamos combinar que o hábito surgido lá pelos anos 1950, muito por efeito de imagens como a de que eu me lembro lá da minha infância, pode ser tranquilamente dispensado, você não acha? Hoje, eles seriam, sozinhos, os responsáveis por 4% de todo o lixo plástico do planeta. "Eles" vírgula, nós somos os responsáveis.
Distraída que andava, não havia dado atenção a campanhas recentes em redes sociais e em outras plataformas para conscientizar para esse pequeno/grande drama, como a #RefusePlasticStraws (em tradução livre, recuse canudinhos de plástico), a Desencanude-se ou uma outra da última estação quente: "Neste verão, dispense o canudinho". Há ainda uma que considero mais efetiva, por pedir a adesão de bares e restaurantes à causa com o sugestivo nome Straw Wars – o trocadilho, usando o título do filme, já é garantia para angariar seguidores. Nesse caso, os estabelecimentos são convidados a não usar canudinhos ou só entregá-los se o cliente pedir.
De minha parte, há muito tempo, sempre que posso, recuso canudinhos plásticos. Quando os devolvo, sempre digo uma frase a quem me entregou: "Não precisa. Sou contra o uso de canudos de plástico". Nunca fui criticada. Sempre recebo de volta um comentário como percebendo que a mensagem faz sentido.
É uma coisa pequena, eu sei, e ainda há muito plástico no meu dia a dia (preciso urgentemente me livrar dos copos descartáveis), mas é um gesto que pode contagiar.