Cheguei a Porto Alegre no mesmo ano em que o Theatro São Pedro reabriu as portas, 1984. Não vi, portanto, sua decadência, a não ser por notícias esparsas. Também não acompanhei os nove anos ao longo dos quais suas feridas foram curadas com a especial dedicação de Dona Eva Sopher.
Quando dei de cara com ele, foi paixão à primeira vista. Encantamento com os detalhes, com as poltronas de veludo, com o lustre que se apaga lentamente, com a programação, com o café na sacada com vista para a Praça da Matriz, com Dona Eva recebendo a cada um de nós como se estivesse à porta de sua casa (e estava!).
Estudante na época, com o dinheiro contado, não lembro nunca de ter me sentido intimidada pela pompa do teatro.
Em 1985, vi Brincando em Cima Daquilo, com Marília Pêra, uma das primeiras peças que guardei na lembrança, encarapitada numa galeria lateral, um ingresso que meu dinheiro conseguia pagar, mas recordo ter me sentido até privilegiada com a vista especial do palco e da atriz.
Também foi um privilégio poder levar minha mãe, num raro final de semana na Capital naquela mesma época, para conhecer o que ela chamava de uma "casa de chá", o charmoso café do foyer do teatro, que, então, tinha horários mais dilatados (agora, infelizmente, só abre duas horas antes dos espetáculos) — por conta dela, numa tarde de domingo inesquecível.
Tantos momentos, tantos recortes de vida, tantos visitantes que levo para conhecer, orgulhosa desse monumento da cidade…
Um lugar de rara unanimidade nesses nossos tempos de divisões.
Uma dívida eterna com Dona Eva.