Ninguém vai a Brasília se cadastrar para receber o Bolsa Família ou o Benefício de Prestação Continuada (BPC). São as prefeituras, por meio de suas secretarias de assistência social, as encarregadas de identificar se a pessoa se enquadra nas regras para receber benefícios do governo federal. O pente-fino que Haddad anunciou para cortar benefícios sociais depende em boa parte das prefeituras — em outra, da tecnologia, que vai cruzar dados de diferentes cadastros para identificar possíveis fraudes.
Uma das preocupações do governo é o aumento atípico no número de famílias unipessoais. Ou seja, “famílias” de uma pessoa só, que recebem bolsa, muitas vezes por conta de declarações falsas ou separações fictícias. Por isso, até dados das companhias que fornecem serviços de água e luz serão usados nos cruzamentos para ver se naquele endereço mora mesmo uma pessoa só (ou uma mãe com filhos) ou se há mais um adulto recebendo benefício.
Não há como o governo federal despachar agentes para investigar fraudes em aposentadorias, pensões, benefícios sociais. É preciso usar a tecnologia, o conhecimento que as prefeituras têm e um instrumento ainda muito pouco utilizado pela população: o site de transparência. Porque tudo o que é pago está à disposição do cidadão para fiscalizar. Se o seu vizinho tem dois carros na garagem e recebe bolsa família, é porque há algo de errado. Denunciar, nesse caso, é um ato cívico de respeito ao dinheiro público.
O governo sabe que em muitas prefeituras houve, neste ano, inchaço no cadastro de beneficiários dos programas sociais e afrouxamento nos critérios, por conta da campanha eleitoral. Os prefeitos que assumem em 1° de janeiro devem ter em mente que dinheiro não dá em árvore e que, para que não falte na saúde e na educação, é preciso combater as fraudes. A parceria com o governo federal, neste caso, é obrigatória, mesmo que o prefeito seja de um partido adversário.