Ainda que seja preliminar e possa ser aprimorada, a proposta apresentada aos governadores pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para renegociar a dívida dos Estados é animadora para quem acredita no poder transformador da educação. O governo federal está se dispondo a abrir mão de parte do juro cobrado dos Estados, mas exige uma contrapartida inovadora nas relações federativas: investimento no ensino técnico.
Os governadores, naturalmente, queriam mais e tentarão melhorar a proposta apresentada nesta terça-feira (26), mas ninguém contesta a correção do princípio. O Brasil precisa de mais investimentos em educação. E se a renegociação da dívida dá uma pequena folga no orçamento dos Estados, nada melhor do que aplicar a diferença em uma área que dará retorno a curto, médio e longo prazo.
No caso do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite tem um compromisso de implantar o turno integral em 50% das escolas de Ensino Médio até 2026. Por que não casar as duas coisas? Ensino técnico em tempo integral para que os jovens saiam da escola com uma profissão, preparados para enfrentar os novos desafios do mercado de trabalho.
A secretária da Educação, Raquel Teixeira, tem clareza de que o ensino técnico é um caminho para reduzir a multidão de jovens classificados como "nem-nem", aqueles que não estudam nem trabalham. Até por isso, trabalhou para dar um destino digno à Escola Estadual Maria Thereza da Silveira, no bairro Mont'Serrat, que está deixando de atender crianças para se transformar num centro de formação profissional.
O Rio Grande do Sul teve (e ainda tem) exemplos de escolas técnicas que podem servir de modelo. Um clássico é o Liberato, que Raquel conhece e admira. O Parobé já foi um centro de formação técnica, mas ao longo dos anos acabou se deteriorando em todos os sentidos. Junto à degradação física, perdeu a capacidade de formar pessoas disputadas pelo mercado, porque parou no tempo.
O mesmo ocorreu com as escolas técnicas agrícolas. Quem nelas estudava saía preparado para as demandas de uma agricultura em expansão, mas sem a complexidade exigida hoje. Será preciso não só oferecer prédios adequados e laboratórios, mas, principalmente, treinar os professores para transitar em um mundo marcado pela inteligência artificial e orientar os alunos nesse rumo. A proposta do presidente Lula tem um norte e os governadores terão de trilhar esse caminho.
Aliás
Sair do Ensino Médio com uma profissão não impede que o jovem curse a faculdade. Pelo contrário, o ensino técnico pode preparar melhor para a entrada na universidade, dado que o Enem é uma forma de seleção baseada mais no raciocínio do que na decoreba do passado.