Dizer que o Ministério da Justiça é grande demais para o ministro Ricardo Lewandowski é chover no molhado. Já que não teve pudor em criar tantos ministérios e cindir pastas de áreas menos relevantes, o presidente Lula deveria repensar a ideia de entregar a um ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal a responsabilidade por uma estrutura para a qual ele não está preparado. Por que não criar um ministério específico para a Segurança Pública, indicando uma pessoa do ramo para chefiá-lo?
Lewandowski passou os últimos anos nos salões acarpetados do Supremo Tribunal Federal, onde, em tese, só deveriam ser julgadas questões constitucionais. Não tem o traquejo do dia a dia na segurança, uma área que, cada vez mais, exigirá atenção dos governos federal, estaduais e municipais.
Não se diga que segurança pública é responsabilidade dos Estados. A União tem um papel crucial no combate aos crimes que estão na raiz da violência cotidiana, o tráfico de drogas e de armas. Não que a Polícia Federal seja despreparada ou precise de babá, mas as políticas públicas são formuladas no ministério. Lewandowski pode ser um jurista brilhante, mas estará preparado para combater os traficantes e milicianos que ameaçam transformar alguns Estados em versões brasileiras do Equador?
Se, pelo menos, Ricardo Cappelli tivesse continuado como número 2, haveria a certeza de que abaixo do ministro está um homem que entende de segurança pública. Mas Cappelli, que mostrou pulso forte no 8 de janeiro de 2023 e nos dias seguintes, era da confiança de Flávio Dino, não do seu sucessor.
Lula não deveria subestimar um tema que preocupa tanto aos brasileiros. Se há ministérios demais, que se fundam outras pastas criadas apenas para acomodar aliados. Pode parecer contraditório defender a criação do Ministério da Segurança Pública e sugerir que o Turismo, por exemplo, poderia ficar no guarda-chuva do Ministério do Desenvolvimento Econômico. Mas o Turismo é atividade econômica na essência e não precisaria de um ministério específico.
Há outros ministérios simbólicos, que em um ano não disseram a que vieram. Exemplos? O Ministério das Mulheres nada fez para reduzir os feminicídios ou a discriminação das mulheres. O fato de ter uma pasta específica para os indígenas não resolveu o problema dos ianomâmis, que seguem escravizados pelos garimpeiros, vendo suas crianças morrendo de inanição.