É a regra do jogo: quando abre uma vaga no Supremo Tribunal Federal, o presidente da República escolhe o substituto e encaminha a indicação para aprovação do Senado. Para ser indicado basta que a pessoa tenha saber jurídico e reputação ilibada. Há tempos o presidente Lula vem dando sinais de que o escolhido para a vaga de Ricardo Lewandowski será Cristiano Zanin, o advogado que o livrou da cadeia, garantiu a anulação de suas condenações e abriu as portas para que fosse candidato.
É natural que Lula tenha gratidão eterna por Zanin, mas daí a indicá-lo para o cargo vitalício de ministro do Supremo soa como uma mistura do interesse público com o privado. Não se espera que Lula ou qualquer outro presidente nomeie alguém com quem não tem afinidade, mas precisava ser o próprio advogado?
Zanin se mostrou um advogado competente. Defendeu teses que outros juristas desprezavam. Desde o início da Lava-Jato, dedicou-se a procurar furos no processo e desqualificar o trabalho do juiz Sergio Moro e dos procuradores de Curitiba, liderados por Deltan Dallagnol.
Zanin foi ajudado pela chamada Vaza-Jato, reportagem do site The Intercept, baseada no vazamento de trocas de mensagens, que mostrou conversas nada republicanas entre Moro e os procuradores. Lula foi aconselhado a não indicar Zanin para a vaga de Lewandowski, mas está decidido a anunciar a escolha de seu advogado na próxima semana. Foi isso o que ele disse no churrasco de sexta-feira à noite, quando reuniu um seleto grupo de ministros e políticos no Palácio da Alvorada.
No grupo estavam, além de Lewandowski, que já se aposentou, os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Por mais que se saiba que em Brasília a política e a vida social caminham juntas, neste momento de profunda desconfiança em relação à imparcialidade dos ministros do Supremo, cabe perguntar: é de bom tom Gilmar e Moraes irem a um churrasco de confraternização? Não, não é de bom tom.
Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, andou reclamando que não conseguia ser recebido por Lula. Essa reclamação é feita também por líderes de partidos aliados e parlamentares independentes, mas será que o lugar adequado para discutir questões de Estado é uma festa depois do expediente de sexta-feira?
Aliás
Aliados de Lula reclamam da interferência da esposa Janja, que tem o monopólio do almoço com o marido, e pedem que ele abra a agenda para os políticos. Nos dois primeiros mandatos, além dos almoços Lula costumava levar deputados e senadores no avião presidencial nas viagens para suas bases eleitorais. Se esse tempo está voltando saberemos em duas semanas, na próxima viagem ao Rio Grande do Sul.